Quarto da Serena - 1º andar

Fiz uma expressão confusa assim que o senti a puxar-me demasiado e quando olhei para o meu pulso, tinha uma pulseira esquisita e nada normal no mesmo. Não era preciso ser uma ourives para perceber que aquilo não era bom - Liam? - perguntei com a voz a tremer - O que é que estás a fazer?

Fechei o portão da entrada de minha casa assim que entrei para a mesma e antes de fechar a porta de casa, virei a cara para trás e vi o Kit a seguir-me. Senti um aperto no peito mas abanei a cabeça para afastar pensamentos que não deviam. Fechei a porta e subi as escadas para o meu quarto, atirando-me para a minha cama de seguida.

Não tinha o meu telemóvel e só agora é que me apercebia disso, mas não ia sair dali, o meu irmão ia sobreviver sem mim. Olhei para Serena a entrar em casa e deixei-me encostar ao portão, acabando por me sentar ao lado do mesmo, para o caso de quererem sair ou entrar.

Levantei-me da cama e aproximei-me devagarinho da janela. Encostei-me no parapeito da mesma e olhei para o lado de fora onde se via o Kit sentado. Suspirei e puxei as pernas para cima até me agarrar às mesmas e pousar o meu queixo nos joelhos. Não percebia o que é que se passava com ele e agora estava sem saber se devia falar com a policia ou não.

O meu irmão, e se ele fizesse alguma coisa ao meu irmão? Não. Ele estava em casa, não ia fazer mal a ninguém. Engoli em seco passando as mãos pelo meu cabelo e respirei fundo, precisava de me acalmar, eu estava a ficar todo maluco da cabeça por causa daquele gajo. Mais do que já era antes.

Continuei a olhar para ele pela janela com o queixo nos meus joelhos. Porque é que ele não ia embora? Se me queria controlar para saber se eu chamava a policia ou não, não era à porta que fazia alguma coisa. Encolhi os ombros e levantei-me do parapeito. Fechei as cortinas e atirei-me para a cama novamente.

Olhei para cima quando ouvi um barulho e vi um vulto no quarto dela a fechar as cortinas. Suspirei encostando o queixo aos meus joelhos. Não ia sair dali, o meu irmão para ir para a escola tinha que passar por ali, por isso aí eu podia explicar-lhe tudo para que ele não se preocupasse mais. Só tinha que tentar não adormecer.

Agarrei-me à almofada com força e enterrei a cabeça na mesma. Devia deixar de sentir isto pelo Kit. Ele tinha-me mentido e enganado e agora parecia um maluco a não me deixar falar com a policia sobre o que se tinha passado com o Liam. Mas por mais que tentasse eu só conseguia e só queria estar com ele. Bati com a cabeça na almofada e suspirei.

Levantei-me num pulo quando já era de manhã, estava a adormecer e tinha que ver o meu irmão passar, para dizer que ele se tinha que meter o mais rápido possível em casa. Olhei para o meu relógio vendo que faltavam mais ou menos cinco minutos e ao fim desses mesmos vi-o ao fundo. Ele quando se apercebeu de mim começou a correr. - Vai directamente para casa - disse-lhe - estou em apuros e não quero que te aconteça nada - disse de rajada. Ele olhou para a casa de Serena. - Vai Jason, ela está bem, garanto-te.

Mordi o lábio inferior enquanto olhava para a janela e acabei por voltar a levantar-me da cama e aproximar-me da mesma. Suspirei quando vi que o Jason estava lá fora com o Kit e encostei-me à janela enquanto olhava para eles. Já não sabia o que é que se estava a passar e só queria que tudo aquilo acabasse de uma vez.

-Olha - Jason apontou para a janela e ainda fui a tempo de ver Serena. Engoli em seco endireitando-me enquanto a olhava e voltei a olha-lo.
-Eu disse que ela estava bem - passei a mão pelo seu cabelo - vais para casa, vais ficar lá bem.

Assim que vi que eles estavam a olhar para mim, agarrei-me a um dos cortinados e puxei o mesmo, colocando-o à minha frente. Eu sabia que o Jason não tinha culpa de nada mas mesmo assim não conseguia estar com ele porque sabia que de alguma maneira ia acabar por estar também com o Kit.

Ele baixou a cabeça e eu olhei de novo para a janela vendo que ela já não estava lá. Engoli em seco voltando a sentar-me e vi-o assentir com a cabeça dando meia volta e indo de novo para casa. Suspirei passando as mãos pelos olhos e fiquei sentado a olhar para a estrada.

Respirei fundo enquanto olhava para as cortinas e abri a porta do meu quarto para sair do mesmo. Desci as escadas até ao andar de baixo e abri a porta da rua. Só não abri o portão porque não me queria aproximar demasiado dele para o caso de começar a chorar ou algo do género - Não vais sair daqui? - perguntei enquanto cruzava os braços.

Olhei para Serena quando abriu a porta e levantei-me de novo ficando a olha-la. O meu coração até saltava só de a sentir aproximar-se, apesar de continuar tão longe. Abanei a cabeça para responder à sua pergunta - não - disse baixinho. E mais uma vez ela não me percebia, mas eu não era obrigado a ir embora, até estava fora da propriedade dela por isso ela podia chamar a polícia e fazer tudo o que quisesse, eu não ia sair dali.

Continuei com os braços cruzados enquanto o olhava assim que disse que não se ia embora - Importaste de ir embora antes que venha cá por exemplo o meu irmão? - encostei-me ao portão - Não é por estares ai que me vais proibir de ligar à polícias, não mudas nada nem à minha porta nem em tua casa por isso podes ir para lá, sempre estás melhor.

Abanei a cabeça - não tenho medo do teu irmão - na verdade até tinha, mas queria fazer-me de forte, porque caso não fizesse não ia conseguir estar ali durante muito tempo. - Não te estou a proibir de nada, estou à tua porta, não posso estar à tua porta? - perguntei mas nem deixei que respondesse, passei pela estrada, nem olhando para os lados e fui para o outro lado da rua, ficando sentado no passeio. Ele ia aparecer, eu tinha certezas.

Abri a boca para falar mas ele atravessou para o outro lado da rua. Revirei os olhos e abri a porta - E quem é que te diz que a vizinha não liga à policia por ter um rapaz à porta dela? - perguntei de braços cruzados - Kit, vai-te embora. O objetivo não era que tu te afastasses de mim? Cinco metros não é lá uma grande distância.

Olhei para trás quando falou da vizinha dela e encolhi os ombros - o rapaz não está virado na direcção de casa dela - disse baixinho ficando a olha-la - eu não vou sair daqui - disse abanando a cabeça. - Ele sabe que eu não consigo prometer o que disse - disse cerrando o maxilar para não voltar a chorar que nem uma maria madalena e assim que me acalmar continuei - por isso vai voltar e eu vou ficar aqui.

Continuei encostada ao portão de minha casa a olhar para o Kit que estava agora no outro lado da rua, muito longe não havia dúvida - Ele não vai voltar porque eu vou chamar a policia e dizer o que ele me fez. - dei um pequeno pontapé ao portão para ter a certeza que estava fechado - Por isso vai para casa. O Jason precisa de ti, eu não. - claro que não.

Engoli em seco abanando a cabeça, ele ia voltar, ele escapava-se sempre, era sempre assim. - Eu vou ficar aqui - olhei para sua casa - podes ir para dentro, não me vais conseguir expulsar - disse - eu nem sequer estou na tua propriedade voltei a sentar-me no chão, olhando para as minhas mãos.

Revirei os olhos porque sabia que ele tinha razão, não o podia expulsar uma vez que ele já não estava na minha propriedade - Kit, não preciso de um segurança muito menos preciso que tu faças esse trabalho. - mordi o interior da bochecha com força - Deixa-me em paz de uma vez. Não era o que querias fazer? Então vai embora.

Levantei o olhar quando ela disse que não precisava que fosse eu o segurança e cerrei com bastante força o maxilar desviando o olhar do dela - vai para dentro de casa - disse apenas porque se continuasse a falar a minha voz não ia continuar tão boa quanto estava.

Meti-me direita assim que ele disse para me ir embora e abanei a cabeça - Não. - disse simplesmente - Não mandas em mim, Kit. Eu faço o que quiser. - abri o portão e sai para a rua - Ele que venha atrás de mim outra vez. Ao menos se me matar desta vez já podes sair daqui e ficar de consciência tranquila.

Cerrei os punhos para ver se funcionava e virei a cara noutra direcção. Respirei fundo encostando a minha bochecha ao meu braço, limpando a mesma discretamente e abanei a cabeça - também não mandas em mim, não me vou embora aconteça o que acontecer. - disse enquanto olhava para o fim da estrada.