Quarto do Axl

Levantei-me e aproximei-me dela. Esperei que ela adormecesse.
-Parece que afinal sempre há história. Muita história. - disse-lhe

Olhei para Amanda à minha frente e cerrei os punhos abanando a cabeça.
-A minha mãe adora pensar que eu fui a causa da morte do meu pai - foi a única coisa que lhe disse. Depois de ter visto tudo ela ainda gostava de pôr, praticamente, as culpas todas em cima de mim.

Agarrei-lhe na cara e obriguei-o a olhar para mim.
-Como é que isso aconteceu? - perguntei

-De modo nenhum - respondi-lhe levantando-me e virando a cara. - Vamos para a sala, não quero acorda-las agora.

Olhei para Amanda abanando a cabeça e pedindo para ela se calar com um gesto. Vi a arma dele e revirei os olhos, não sabem viver sem aquilo? Porra!
-É suposto conhecer-te? - Perguntei dando uns passos em frente com a minha faca a rodar-me pelos dedos de uma forma descontraída. Ele ia odiar isto. Ele riu-se mas podia ver que estava nervoso. Eu sabia que metia nervoso qualquer um, tinha treinado isso durante muitos anos.
-Achas que consegues matar-me com isso? Estou armado - revirei os olhos com o que ela disse.
-Também eu - mostrei-lhe a faca colocando-a em forma de ataque. Ele abanou a cabeça substimando-me. - Além disso estou dentro do espírito hoje. - respondi com um sorriso e vi-o a apontar com a arma para Mary, que estava a tremer com a Melanie ao colo num canto do quarto.
-Nem penses - rugi tirando o meu sorriso da cara e colocando um mais agressivo.
-Princesa, ali - abanou a arma para elas virando-se para Amanda.
-Amanda, não vás - disse-lhe.
-Vai.
-Amanda - resmunguei.

Numa fracção de segundo olhei para ambos sem saber o que fazer. Olhei para a arma do homem que quando viu que fiquei parada apontou a Melanie.
-Não! - gritei, assustada, dando um passo em frente. Melanie era a irmãzinha de Axl e sabia que ele nunca se ia sentir bem se a perdesse como perdeu o pai. Não deu para fugir, pensar ou sequer olhar depois de ter dado esse passo. Senti uma seringa a espetar-se no meu braço e de repente perdi todas as forças e sentidos. Não sabem viver sem drogas? Ainda senti alguma coisa a puxar-me para trás mas não consegui perceber se era uma mão ou fruto da minha imaginação. Quando acordei, já estava num sítio totalmente diferente onde nunca tinha estado.

Assim que ela foi para o lado delas revirei os olhos. Porque é que ela teimava contrariar-me? Até parece que eu não sabia o que estava a fazer. Quando a vi cair desmaiada olhei para o homem completamente descontraído. Ele continuava a apontar para as minhas irmãs e agarrava, agora em Amanda.
-Eu vou encontrar-te, sabes disso não sabes? - Perguntei e quando vi, pela forma como agarrava na arma que ia disparar contra ela cortei-lhe o braço e ele apontou para mim deixando as minhas irmãs em paz.
-Sei, mas é exactamente isso que eu quero.
-Prepara-te mentalmente para a morte - abri um sorriso e vi-o sair sentindo-me impotente por não poder fazer nada. O que é que eu podia fazer? Ele tinha uma pistola barata qualquer e eu tinha uma faca que apesar de estar afiada não se compara ao que ele tinha, ainda por cima as minhas irmãs estavam ali e eu não podia tirar-lhes a infância tal como o meu pai me tinha feito.
Respirei fundo indo até M&M's. Peguei na bebé ao colo sentando-me ao lado da mais velha.
-Estás bem? - ela fungou limpando a cara e encostou a cabeça ao meu ombro. Fiquei ali, a pensar no que havia de saber. Eu sabia quem ele era, era um dos que mais pedia e que menos pagava. Conhecia-o bem como conheço todos os outros por causa das minhas pesquisas e ele não parece ser assim tão esperto. De certeza que não tiraria o telémovel a Amanda, nem se lembraria disso.
Peguei no meu e mandei-lhe uma mensagem caso ela conseguisse ler.
Apenas mantém a calma e descreve-me o lugar com poucas palavras. Não fales com ele.

Abri a porta e fechei com o um pé deitando-a na minha cama e pegando nuns produtos para desinfectar a ferida que ela tinha, que apesar de ser funda não era grave. Mais um bocado ao lado e estava feita. Peguei numa liga para apertar o corte e coloquei-lhe o penso.
-Queres alguma coisa? - Perguntei - para dores ou assim?

Manti-me calada e abanei a cabeça como sinal de não. Ainda não tinha percebido se ele tinha matado o homem ou não e continuava com medo que ele voltasse, afinal ele sabia onde Axl vivia.
-Onde estão as tuas irmãs? - questionei tão baixinho que se ele não estivesse tão perto de mim não ouviria.

-Com uma amiga - respondi-lhe no mesmo tom. - Sabes, quando eu digo, "não vás" é para não ires. Eu sei muito bem o que pessoas como ele fazem - resmunguei. [b]

Tossi, tentando melhorar a minha voz rouca.
-Podes estar habituado àquele género de pessoas mas eu não. Tive medo que alguma das tuas irmãs é que sofressem... - confessei, falando um bocadinho mais alto.

-Amanda eu avisei-te. Disse para não te mexeres, mas o que é que eu posso fazer? Tu não confias em mim - encolhi os ombros - também não posso fazer nada e não te julgo.

Virei-me de costas.
-Nem tudo o que avisas eu faço. Ele apontou a arma à tua irmã e depois de saber o que já te aconteceu, se ela morresse tu não ias ficar muito bem! - fechei os olhos novamente.

-Não me aconteceu nada Amanda, não penses. Não me aconteceu nada - disse-lhe levantando-me e pegando numa camisola quente e passando-lha. Peguei na minha caixa de comprimidos para a dor de cabeça e tomei três de uma vez estalando o pescoço logo a seguir. O stress estava a apoderar-se de mim.

Peguei na camisola que ele me passou e vesti-a. Sentei-me na cama e olhei para ele. Pensei em dizer umas coisas mas iria ser demasiado intrometida.
Respondendo à tua pergunta, continuo a vir porque és a única pessoa que tenho. - confessei quebrando o silêncio

Surpreendeu-me a forma como ela nem sequer se intrometeu na minha vida e tentei lembrar-me da pergunta que lhe tinha feito.
-A única pessoa que tens na vida é um drogado? - Perguntei deitando-me na cama com o meu peso todo sobre um cotovelo.

Baixei o olhar.
-Parece que sim. - assenti baixinho e depois soltei uma gargalhada seca - Parece.. irónico. - abanei a cabeça sem a levantar

-Parece irónico o quê? - Perguntei mexendo-me apenas para pegar num cobertor.

Deitei-me novamente e olhei para ele, abanando a cabeça mas desta vez de uma maneira diferente.
-Nada, esquece. - murmurei. Na minha cabeça tentei procurar coisas para mudar de assunto mas desta vez não tinha nada que dizer ou fazer.

Abanei a cabeça.
-Eu nunca esqueço nada, devias saber isso - ignorei-a sentando-me direito e abanando com a cabeça. - O que é que é irónico?

Comecei a pensar na resposta que lhe ia dar, era uma resposta complicada.
-A minha única pessoa ser um drogado. É irónico. - repeti

-Hm - pronunciei levantando-me - enjoy it - respondi indo até à cozinha e fiz uma sandes e um sumo de laranja que levei para cima e lhe dei. Ouvi um tlintar e Pinkly saltou para a minha cama.
-Pinkly, já estás boazinha - murmurei e ela foi para o meu colo lambendo-me a cara.

Decidi não perguntar de novo o que tinha acontecido à Pinkly e comi um bocadinho. Depois de ter comido metade da sandes e de ter dado dois goles no sumo, estava farta e dei um bocado à cadela. Procurei o meu telemóvel e depois lembrei-me.
-O meu telemóvel! - exclamei - Trouxeste-o?

Tirei-o do bolso mandando-o para o colo.
-Manda lá as tuas mensagens ao Edwin. Ele não é drogado, pelos vistos não sou a única pessoa que tens - disse-lhe. - Pinkly, não comas isso - ralhei - faz-te mal.

Ri-me, começava a ficar melhor e precisava de o pôr de melhor humor também, por isso decidi provocá-lo.
-Uhh o menino Axl tem ciúmes? - fiz uma careta e mandei a mensagem ao edwin. Edwin não era uma 'pessoa'. Ou melhor era, mas não eramos tão proximos que o pudesse considerar alguma coisa a mim.