Quarto do Axl

Atirei-lhe a almofada e cheguei-me à beirinha da cama até adormecer o que, eventualmente, acabou por acontecer. Acordei de manhã, por volta do meio dia, quando caí da cama, após milhentos pesadelos durante a noite.

Não consegui pregar olho, ela gritava bem alto, nem sei como é que ela própria não acordava com aqueles gritos. Não a ia chamar novamente, pelo menos não me chateava e fazia o mesmo efeito, se ela estivesse acordada eu também não ia dormir. Abri os olhos, apesar de não ter estado a dormir, tinha-os fechados e olhei para o lado quando ouvi um estrondo. Suspirei e sentei-me na cama cheio de sono - estás bem?

Acenei com a cabeça e saí em silêncio a correr para a casa de banho, com uma cara aterrorizada e a tapar a ferida que fizera na cabeça. Agora que já estava normal, é claro que aquilo tinha de faltar. Quando destapei a mão da cabeça sangue escorreu-me pelos cabelos e eu abri a torneira, limpando a ferida.

Vi-a a correr para a casa de banho e levantei-me novamente preocupado com um suspiro. Abri a porta e vi o sangue a escorrer. - Amanda - aproximei-me virando-a para mim com a ferida e tocando-lhe na cabeça para a examinar, debatendo-me com os seus braços que pediam para parar. - Não é profunda - murmurei - mas desta vez tens que ir ao médico. E nem digas que não gostas de médicos, porque eu vou ser um.

Subi silenciosamente as escadas e consegui chegar ao quarto sem ser apanhada, ainda com lágrimas a escorrerem-me pelos olhos com a pouca água que ainda me restava. Queria passar uns dias, ou mesmo mais, fora daquela casa. fora dele e fora daquele mundo. Já estava a precisar de uma pausa, ou mesmo de um stop. Abri a gaveta do seu armário, começando a tirar roupas que me pertenciam e guardando-as na minha mala.

Limpei o suor com a mão e respirei fundo várias vezes tentando fazer com que o stress se dissipasse mas era praticamente impossível. Subi até ao meu quarto e fiquei estático a olhar para Amanda que estava a fazer a mala. Eu nem sabia que ela já estava em casa, muito menos de que estava a fazer a mala.
-O que é que estás a fazer? - Perguntei com a voz rouca e tive que tossicar um pouco para a aclarar.

Enquanto arrumava as roupas na mala, ouvi a porta a ranger ao abrir e em seguida a voz de Axl.
-O que é que te parece que estou a fazer? - balbuciei sem retirar os olhos da minha roupa e de outras coisas que para lá estavam, talvez porque não o queria encarar, ou simplesmente talvez porque não queria que ele visse que eu tinha estado a chorar. e muito.

Entrei no quarto fechando a porta e indo sentar-me na minha cama levando as mãos à cara e respirando fundo.
-E porque é que estás a fazer a mala? - Perguntei.

As minhas roupas estavam a chegar ao fim mas eu não podia simplesmente parar e ficar a olhar para ele, por isso continuei à procura de mais nas gavetas dele.
-Porque é que achas que estou a fazer as malas? - perguntei, continuando com o mesmo tom de voz, e a responder às suas perguntas noutra pergunta.

Elevei as mãos até ao meu cabelo e cerrei os dentes. Ela sabia que me irritava profundamente quando me respondia com outra pergunta.
-Não sei, por isso é que te perguntei. Porque é que estás a fazer as malas? - perguntei novamente. Hoje não estava nos meus duas, especialmente agora, senti-a que podia cometer várias loucuras e não sabia quais os extremos delas.

Bufei, irritada. Ele não era assim tãão burro. Fechei a mala, fazendo imenso barulho, sem olhar para ele e passei o dedo pelos olhos, tentando secar o resto das lágrimas secas. Coloquei a mala nos ombros e esperei dois segundos antes de me levantar pela primeira vez e caminhar por ele. Encarei-o pela primeira vez e bati contra ele, não por mero a caso, tenho de acrescentar.
-Adeus, Axl. - despedi-me, sem o olhar.

Quando ela bateu contra mim olhei para ela e fui atrás dela, agarrando-lhe num braço.
-Diz-me. - Virei-a na minha direcção - Acho que tenho o direito de saber ,não? - perguntei tentando falar normalmente.

Senti-me a arrepiar-me toda quando ele me tocou e ainda mais ao olhar para ele. Porquê, perguntava ele? Era a pergunta mais básica da questão, mas ao mesmo tempo parte de mim questionava a minha resposta. Era suposto eu ser a sua companheira e ajudá-lo, ou ser a sua companheira traída e ir-me embora?
-Agora que já não és um ganzado qualquer que por aí anda já tens muitas gajas com um decote bem maior que o meu para usar. E também já percebi que apesar de tomares dois comprimidos em vez de um consegues fugir da droga. Acho que o meu trabalho está feito aqui... - respondi

Fiz uma cara confusa quando começou a falar e aproximei-me mais dela percebendo que ela tinha visto tudo.
-Não, não está. És minha namorada ou não? - Perguntei - Eu quero lá saber das outras gajas. - resmunguei - E aqueles comprimidos não me fazem nada em função da droga. Eu luto a todos os momentos para não ir buscar nem que seja uma coisa assim - fiz uma pequena porção com os dedos começando a sentir-me irado e tentado a ir buscar se ela se fosse embora- lá a baixo.

Senti-me nervosa e tentada a ficar com ele. Ele tinha razão. Oh, se tinha. Todos os argumentos dele estavam correctos! Os meus? Os meus pareciam de loira burra. Mesmo burra. E superficial.
-E consegues. E conseguiste. E porque é que ias cair agora Axl? porque é que não me deixaste ir contigo? - perguntei baixinho. o meu orgulho era e é demasiado alto para ser deitado a baixo.

Ignorei a sua primeira pergunta. Eu ia cair agora porque não aguenta mais, já tinha passado muito tempo e eu queria sempre e sempre. Estava a começar a desesperar por aquilo.
-Porque não gostei da tua atitude quando viste que ele me tinha mandado uma mensagem. Chateei-me e decidi que ia sozinho. Agiste como se fosses minha dona e tu és minha namorada.

Sorri levemente pra ele e beijei-o lentamente, num daqueles beijos que raramente dávamos. Quando os nossos lábios se separaram, sorri. - Eu estou aqui, contigo, ao teu lado. O tempo que for preciso. - declarei. pensei em dizer 'sempre', mas é uma palavra tão mentirosa (e lamechas).

Abracei-a deixando a minha testa cair no seu ombro e suspirei - Nunca pensei que viesse a precisar tanto de ti assim - disse baixo e não a encarando. Também nunca pensaste que pudesses a vir gostar de ninguém.

-Eu sei, eu sei... - murmurei sorrindo. Pessoas como o Axl não precisavam de ninguém. Ou pelo menos, não no seu passado.

- A sério - murmurei e afastei-me sorrindo um pouco e depois daquele abraço não me apetecia nada ir assaltar a casa de banho ou a cozinha. Fitei-a e sorri um pouco - podes ir arrumar essas malas? estão a fazer-me impressão.

Acenei com a cabeça, sorrindo, e em silêncio apanhei as malas novamente e coloquei as coisas nos devidos sítios, percebendo que Axl nunca saíra de trás de mim. Quando acabei, continuei de joelhos e olhei para ele, em busca de palavras.

Sorri quando ela me olhou de joelhos.
-O que é que me vais fazer de joelhos? - ri-me brincando com ela e dei-lhe a mão para a ajudar a levantar. - Tenho uma má notícia para te dar. - engoli em seco baixando o olhar.

Ia-lhe a dar uma boa resposta, mas ele interrompeu-me quando ela ia prestes a sair, com algo que me fez estremecer - O que se passa? - perguntei nervosa.

Olhei o chão com medo da forma que ela ia reagir.
-No início ficava tudo bem e claro - comecei subindo o olhar para o seu pescoço - Mas agora, mesmo tomando em doses muito grandes, eles não fazem nada - engoli em seco esperando que ela percebesse o que estava a acontecer.

Revirei os olhos e engoli a seco, mentalizando-me do que se estava a passar, enquanto a minha cara passava de séria a preocupada. - Já falaste com alguém? - perguntei sentando-me na cama sem retirar os olhos da parede. - O teu irmão, ou um médico, ou sei lá...