Quarto do Axl

Arrgh, pensei para mim própria enquanto ele se virava e saia. Vesti a minha blusa novamente e segui-o até junto da piscina onde estavam as irmãs dele. Pelo menos assim ele não saía de casa tal como eu precisava. Mas será que Bryan ainda demorava muito?

Fiquei um bocado parada no mesmo sítio a olhar para a parede enquanto ele fugia e quando me mexi percebi que Mary e Mel ainda olhavam atentas para mim. Apontei com o queixo para o outro lado e elas correram até lá fingindo que nada viram e eu sorri embora esse sorriso não fosse muito sincero. Subi calmamente as escadas e ainda fiquei encostada à porta um bocadinho enquanto Axl adormecia. Aquela era realmente a melhor maneira de ele não sair de casa, mas estar a sofrer? Esquizofrénico? Até eu tinha medo de adormecer e ele acordar com um ataque como o do pai e suicidar-se à frente da irmã. Não, eu não tinha medo dele. Nunca tive, não tenho e nunca hei-de ter. Simplesmente tinha medo do que ele poderia fazer agora que estava pior. Fui até ele e ajoelhei-me junto à cara dele. Não sabia se ele estava consciente ou não, mas mesmo que estivesse a dormir ouvir-me-ia no seu sonho ou pesadelo ou o que quer que fosse.
-Axl? Não tenhas medo, vergonha, ou o quer que estejas a sentir. - sussurrei ao ouvido - Desmascaraste-te? E depois? Mais vale tarde que nunca. - sorri de orgulho a mim própria o que estava a fazer, na esperança que ele se acalmasse.

Virei-me para o outro lado e quando o fiz, despertei um pouco do meu sono. Mexi uma mão e encontrei uma coisa macia que percebi que era pele humana. Pele de Amanda.
-Não queres ir dar uma volta comigo? - Perguntei abrindo um pouco os olhos e olhando para ela.

-Se for para ir ao hospital... - olhei-o nos olhos com um rosto sincero e verdadeiro, tentando convence-lo realmente a fazer qualquer coisa. Ele já se tinha 'desmascarado', ele tinha medo. Ele chorou, e realmente, o Axl a chorar? Era porque algo muito preocupante se passava. Eu é que era suposto estar a chorar. Eu era uma choramingas apesar de tudo - Por favor? - acrescentei ainda com a minha cara. Talvez agora ele aceitasse.

Revirei os olhos levantando-me e indo até à casa de banho lavar a cara.
-Não, para aí não vou, só morto e é para a morgue - avisei-a vestindo uma camisola e umas calças de ganga. Fui novamente para o quarto e olhei para ela. Eu sabia que ela estava preocupada e apenas isso, mas não ia levar o dela a avante, porque ao médico eu não ia. Para quê? Para ser descoberto pela policia? Para ir preso e chamarem-me de louco ainda aí pelos tribunais durante anos para decidirem o que fazer da minha vida? Nope, isso não ia acontecer.

Encostei-me à parede imaginando exactamente o que ele estava a pensar.
-Vá lá Axl, é para o teu próprio bem e tu sabes. - argumentei. Ele não era assim tão parvo, ele simplesmente não queria ser apanhado. Era o que provavelmente iria acontecer, mas tinha de haver uma maneira de ele fugir e além disso era bem melhor ser apanhado e pagar do que sofrer de uma doença mental sem nunca ter ido ao hospital.

-Não é nada para o meu próprio bem, queres que ele me internem lá? - Perguntei - Eu vou-me sentar aqui na cama, para não dar trabalho nenhum, porque eu agora, por causa daquela carta sou um doente mental. - sorri sentando-me na cama e ficando durante um bocado parado apenas a olhar para Amanda. - Okay, esquece, eu vou embora. - Disse levantando-me, descendo escadas e pegando na minha mala saindo de casa.

Ouvi novamente a minha porta a bater e suspirei. Porque é que esta gente não me deixava em paz? Escorreguei pela cama a baixo e fiquei a olhar para a porta abrir-se. Era Amanda, quem mais seria? Ouvi o pedido de desculpas dela, mas não reagi de imediato.
-Estás a sentir-te culpada por aquilo que disseste? - Perguntei olhando para ela sem mover um musculo. - Ou estás a dizer isso porque pensas que eu preciso de cuidados? - Continuei quando ela não me respondeu logo. A única coisa que eu queria era que ela fosse sincera.

A pergunta que ele me fizera era má pelo simples facto de eu não saber bem. Se ele não fosse uma espécie de 'atrasado mental', não será que eu teria ido embora como as outras mil e uma vezes? Era provável, mas não era certo.
-As duas. - admiti, sem olhar para ele. Era puta verdade, mas simplesmente ia doer-me olhar para ele após aquela discussão.

Sorri sarcásticamente.
-É tão giro ver que primeiro toda a gente me odeia, mas depois quando sabem coisas sobre mim vêm logo ter comigo com pena - disse num tom irónico. Levantei-me e peguei na mão dela fechando a porta e sentando-a na cama. - Eu não sou nenhum deficiente, eu tenho uma doença não muito boa. Provavelmente quanto te envolveste comigo eu já estava assim, por isso pára de me olhar dessa maneira. -Pedi.

-EU NÃO TE ODEIO, PORRA. - respondi com um tom mais alto porque a minha paciência já estava nos limites. Respirei fundo e acalmei-me - Eu sei que não és nenhum deficiente, mas vais ser se não tomares esses comprimidos! - resmunguei e apontei para a caixa que ele tinha na mão - E eu dispenso mais mortes à minha volta. Por favor? - pedi, levantando o olhar

-Eu não te disse que me odiavas! - Ripostei praticamente no mesmo tom, mas ela tinha sorte porque a minha cabeça doía de mais para que eu levantasse mais o tom de voz. - Eu pedi para parares de me olhares com pena. - repeti e ela começou a falar dos comprimidos. Olhei para eles. - Mas para isso eu preciso de parar com as drogas e eu não consigo.

Sentei-me ao lado dele e tirei-lhe os comprimidos da mão. Não podia ser assim tão difícil ele deixar as drogas. Pelo menos na minha mera opinião de pessoa que nunca esteve em reabilitação.
-Sim, consegues. - contrapus - Pode custar mas com a minha ajuda consegues. E é a única maneira de não te tornares um verdadeiro atrasado mental. - custava-me dizer aquelas coisas, mas era a verdade e quanto mais assustado ele ficasse melhor - Por isso, por favor, vais deixar as drogas. - olhei o rótulo e devolvi-lhe a caixa

-Eu não vou ficar nenhum atrasado mental. - defendi-me, tanto a mim como ao meu pai. - Não vou andar ás voltas, nem a dizer que sou um pato e fazer quá quá. - continuei. Apenas vais andar a falar sozinho enquanto vez um amigo que conheces á anos. A andar a bater em paredes, nada de mais Axl. Suspirei agarrando nos comprimidos com força.

-Sim, acredita nisso enquanto ainda não é nada grave. - apontei com o queixo para os comprimidos - Vá Axl, eu vou estar sempre aqui para te apoiar. - tentei argumentar, ele sabia quão sério era isto. E eu não queria ser a 'culpada'.

-Sim, até quando eu estiver a andar às voltas e a fazer quá quá - gozei rindo-me um pouco tentando aliviar o ambiente, ou pelo menos aliviar-me a mim - está descansada que eu não vou apontar uma arma à cabeça e matar-me - sorri um pouco e olhei para a rua, era de noite. Peguei numa garrafa de água que estava ao pé da cama e tomei um comprimido - Happy?

Sorri e levantei-me já mais orgulhosa. Aquele sim, era o meu Axl.
-Muito! - guinchei e dei duas palmas de alegria - Obrigada. - agradeci e parei com os meus risos histéricos.

Olhei para ela como se estivesse com medo e levantei o sobrolho.
-De nada - disse e levantei-me. - Quero sair desta casa - proferi indo à casa de banho e tomando um banho rápido. Fui ao quarto novamente e vesti uma t-shirt com umas calças. Virei-me para ela porque não a ia deixar em casa - queres ir jantar fora? - perguntei.

Enquanto ele se vestia fiz a cama, já que, segundo a Brayce, eu estava com ele por causa do dinheiro, também o ajudava, se não o coitado vivia em desmazelo total. Aliás, o mais provável era, se eu não estivesse ali, ele também já não estava entre nós há muito tempo.
-Sim, vamos. - também me apetecia sair de casa e ele merecia-o pelo simples facto de já ter tomado um comprimido.

Dei-lhe tempo para se vestir e fazer lá o que as raparigas fazem, que eu ainda estava para descobrir ao certo o que era, e quando estáva pronta peguei nas minhas chaves saindo de casa.

Spoiler:

Deitei-me na cama com o suposto objectivo de adormecer enquanto Axl não chegava mas aquele objectivo ainda me punha mais nervosa. E quando recebi aquela mensagem, apeteceu-me sufocar alguém. E desta vez, podem crer que não era eu! Levantei-me da cama e tentei ligar a Axl uma e outra e outra vez, de todas dava o mesmo resultado 'O nº que tentou contactar, não está disponível, por favor deixe mensagem na caixa de correio de (...)'. Mandei-lhe uma mensagem e rugi para mim mesma, deitando o telemóvel ao chão e pouco depois apanhando-o. Andei de um lado para o outro e quando me lembrei decidi ir para minha casa ver se descobria da minha prima.

Irritei-me, visto que ele não me respondia, e subi as escadas batendo os pés com força, até chegar ao quarto. Deitei-me ao pé dele, sem parar quieta.
-Oh princesa, o teu sono acabou. - despertei-o ao ouvido.

Abri os olhos e respirei fundo.
-Estás melhor ou só vens aqui para me chatear outra vez? - Perguntei olhando para ela.

Revirei os olhos, colocando-me em cima dele.
-Eh, os dois. - respondi-lhe num sussurro ao seu ouvido e liguei a luz da mesinha de cabeceira. - Que horas sãããão?

Olhei para o meu relógio.
-São três e meia, já podias parar um bocado e adormecer. - disse-lhe fazendo-a deitar-se ao meu lado com mais calma.