Entrada

Olhei para Amanda que estava ao meu lado e fiquei um bocado espantado pela maneira como ela falava, eu pedi-lhe para explicar, não para ela não me culpar. Percebi que a minha mãe também olhava para ela sem saber o que dizer e com uma cara rigida.
-Sim, agora a culpa é dos outros. - Resmungou ela - eu sabia que não te as devia ter trazido. - Ela virou costas e começou a andar em direcção ao portão, mas eu agarrei-lho num braço. Era agora ou nunca que tinha uma conversa com ela. Ela virou-se para mim com uns olhos severos que me faziam lembrar os meus.
-Larga-me Axl - Ralhou-me mas eu abanei a cabeça colocando-me à frente dela de costas para a estrada.
-Tu não tens o direito de me culpar por uma coisa que eu não fiz. - Atirei - Muito menos sentir isso por mim e ainda por cima entregar-me as miudas, sem qualquer explicação. E aliás, porque é que elas não podem ficar com o Bryan?
-Não é da tua conta. - Gritou e eu cerrei os dentes apertando o seu pulso um bocado mais inconscientemente.
-A culpa é tua - garanti.
-Poupa-me Axl, e mesmo que seja, ninguém se interessa. Sabes porquê? - Perguntou-me e fez um compasso de espera para que eu respondesse, coisa que não fiz - porque tu não fazes falta a ninguém. Nem a mim, nem àquela rapariga nem às tuas irmãs. - Eu ia responder-lhe, ou então até lhe dar uma chapada na cara que ela acabava no chão, mas não consegui, ouvi um disparo vindo de uma direcção desconhecida e o estrondo provocado por esse veio na minha direcção, eu não o sabia até senti algo a perfurar-me mesmo de baixo das costelas e para não cair tive que me apoiar na minha mãe que soltou um grito com o meu nome agarrando-me.

-AXL! - gritei, num grito tão alto como nunca tinha gritado. Sem me perceber senti lágrimas e mais lágrimas a escorrerem-me a face e corri até ele e até à mãe. Ajudei-a a agarrá-lo e olhei em volta, procurando alguém com a arma. Corri em volta do espaço e ainda consegui ver um homem a fugir, mas era demasiado tarde para ir atrás dele. Voltei a Axl a correr e a soluçar e deitei-o no chão. - Axl, por favor, Axl! Fica comigo! - coloquei as mãos no peito dele e fiz pressão para cima e baixo, cima e baixo, tentando ajudá-lo - Axl, por favor, fica comigo! Tu não podes morrer, ouviste?! Axl! - chamei, mais uma vez - Não podes morrer, não podes morrer. Não te quero perder, Axl! - admiti sem pensar, entrando em pânico e ignorando por completo a mãe dele. Ele era a única pessoa que eu tinha, afinal. Eu não o podia perder. Eu não o queria perder. E esse pensamento assustava-me.

O meu corpo entrou em choque, não conseguia mover-me, mas conseguia sentir a bala dentro de mim e ardia como tudo. Comecei a ver demasiadas pessoas à minha volta e o meu cérebro "flipou".

Axl off :c

A mãe de Axl ficou estática a olhar para ele e a sentir o seu coração a impulsionar cada vez mais sangue para as suas veias para que ela se aguentasse lucida neste momento. Viu os olhos do filho a rodarem e entrou em desespero. Nunca devia ter dito aquilo, nunca devia ter vindo à procura dele com alguém a persegui-la. Colocando a mão perto do coração dele conseguiu ainda senti-lo.
-Anda, ajuda-me - disse baixo e quase sem voz tentando levanta-lo como fazia quando ele tinha cinco anos e adormecia no sofá. Amanda ajudou-a a leva-lo para a sala e quando ele já estava confortável, ou não, porque ele não estava a sentir nada, por enquanto, ela respirou fundo tentanto acalmar-se. Não podia chamar a policia, ele seria reconhecido e imediatamente preso, não podia chamar nenhuma ambulância pois acontecia a mesma coisa.
-Bolas, o que é que eu fui fazer? - perguntou-se ela com as lágrimas a cair com o desespero. A bala tinha-se alojado a baixo da sua costela, felizmente longe do coração e dos pulmões mas muito perto de outros orgãos.
-Preciso que me ouças - disse ela para Amanda que estava tão inconsolavel quanto ela. - Vai à cozinha, trás-me... qualquer coisa afiada, panos e água. - Pediu não tendo a certeza do que estava a fazer. Pegou no telemóvel e ligou a um amigo médico que a ajudaria. Tinha que ajudar, ou o filho morria e desta vez, a culpa não era dele.

Acenei com a cabeça e num segundo larguei o ferimento e fui para a cozinha. Procurei o que ela trouxe desarrumando de novo tudo, mas ignorando qualquer coisa. Bati numas cadeiras e fiz nódoas negras e algumas feridas, observando sangue a manchar as minhas calças, mas segui em frente e ajoelhei-me de novo a Axl. Coloquei as mãos no queixo dele e beijei-o, esperando que ele voltasse.
-Por favor Axl. Volta para mim. - sussurrei-lhe ao ouvindo, levantando de novo a cabeça. - E agora? - perguntei à mãe, limpando as lágrimas mas sentindo-as a voltar novamente.

-Agora esperamos - murmurou ela. Clark tinha dito que estava por perto e que aparecia o mais rápido possivel, ele era de confiança por isso não precisava de esconder grandes coisas nem inventar grandes mentiras. Axl estava todo suado e sujo de sangue.
Agarrando na mão de Axl, controlando a respiração para não desatar aos berros, ela pediu a Axl, ela mentalmente, desculpa e disse-lhe que queria que ele fosse forte, apesar de tudo. Ouviu-se uma campaínha e tocar e ela foi ver se era o médico esperado, graças a alguém, era. Ele entrou sem cumprimentar a mulher e foi ter à sala com Amanda, também não se apresentando nem nadado do género. Apenas trocaram algumas palavras até que ele pegou em pinças e vários liquidos para, no fim lhe retirar uma bala de nove milimetros. Houve complicações, não estava num campo esterelizado, não tinha os instrumentos próprios e não conseguia estar sempre a medir a sua pulsação, entre outras coisas. Neste momento ele não conseguia perceber se existia uma possibilidade de hemorragia interna ou não, apenas tinha que esperar para mim. Quando começou a fechar a ferida parou por momento reparando que a respiração dele começou a aumentar, o que neste momento era mau pois ele teria imensas dores. Infelizmente, depois de todas as tentativas, não conseguiu impedir que ele abrisse os olhos.
-Hey puto - riu-se Clark, para o tentar acalmar enquanto fechava o mais rápido possivel a ferida. Axl agitou-se com a dor da agulha e da linha a cravarem na carne fresca. Foi apenas uma vez e apenas um momento, mas fez logo com que Clark estragasse o trabalho e tivesse que recomeçar do início. Ele suspirou e olhou para a rapariga à frente dele tentando acalmar-se a ele próprio naquela situação.
-Como é que te chamas? - perguntou - Acalma-o, por favor, ou isto vai-se tornar muito complicado.

Coloquei as mãos na cabeça dele, tal como fizera há pouco.
-Amanda. - respondi, e olhei para Axl, aproximando a minha cara da dele - Eu sei que dói Axl. Eu sei. Mas isto passa. Calma. - na verdade, eu não sabia. eu não fazia ideia quão doloroso seria aquilo mas sabia que Axl não era de gritar. E sabia que era impossivel manter a calma, mas enfim. - Eu estou aqui, contigo. Ao teu lado. - sussurrei, fechando os olhos - No que quer que seja. Por favor, relaxa. Isto vai passar. - pedi. A minha última lágrima caiu-me para a bochecha dele e continuei de olhos fechados, sentido essa gota de água salgada a unir-nos as faces.

Axl estremeceu cerrando os dentes e as mãos, com apenas os pés a mexerem-se irrequietos.
-Fuck - resmungou tentando acalmar a respiração enquanto sentia a sua carne a ser perfurada vezes e vezes sem conta.
-Pronto, acabei. Acabei, podes acalmar-te. - disse Clark colocando as mãos para cima e respirando fundo esperando que estivesse tudo bem feito. Preparou um penso e tapou a ferida tirando-lhe o resto da camisola e lançando-a para o outro lado da sala.
-Quando passares por aí na rua também te vou coser acordado - resmungou Axl com os punhos cerrados a tremer e com dores.
-Também te gostei de ver Axl - disse Clark levantando-se e olhando para a mãe de Axl. - Não me mandes vir mais, eu não me meto mais nas tuas porcarias. - ela assentiu e agradeceu-lhe com um abraço.
Axl reparou que a mãe ainda lá estava e olhou para Amanda.
-O que é que ela está aqui a fazer? - Perguntou com a boca seca. A mãe dele aproximou-se e ele voltou a fita-la. - Como eu não faço falta a ninguém vieste... - engoliu em seco com sede e os olhos a fechares cansados - ver-me a morrer? - Perguntou ele.
-Cala-te Axl, não digas isso. - soluçou a mãe correndo para as traseiras a chorar.

Axl parecia bom. Bom? Mais que bom! O rapaz tinha acabado de ser alvejado e naquele momento parecia animado... de certa forma.
-Axl! - chamei, de alegria. Abracei-o e apertei-o com força, contente por ele estar são e salvo. Ele provavalmente nem teria notado quão deprimente eu estive naquela hora, mas enfim. O que mais poderia fazer? Não o larguei, pousei a minha cabeça no seu ombro, sentindo-me novamente como eu própria, a menina inglesa que ficou com um drogado, que supostamente foi graças à sua gravidez indesejada que 'foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida'.

-Au - queixei-me tentando respirar fundo, a minha cabeça estalava e quando Amanda falou tão perto de mim estremeci - cuidado - resmunguei enquanto me abraçava. Descerrei o punho de uma mão e limpei a cara que parecia uma banheira intupida.
-Quando ela vier expulsa-a - murmurei com a boca seca e a saber a sangue e terra. Fiz uma careta. - Água. - pedi.

Levantei-me e a coxear fui até à cozinha. Tirei um copo do armário e enchi-o com água da torneira. Olhei para a desarrumação que ali estava e fiz uma arrumação rápida, com cada vez mais dores nas pernas. Quando voltei, já mal conseguia andar.
-Toma. - entreguei-lhe o copo, sentando-me no meio daquela gente toda e respirando de alivio.

-Estás coxa - gozei com Amanda colocando um sorriso nos lábios pelo susto que devia ter pregado. Fi-lo desaparecer assim que ouvi a minha mãe voltar a entrar na sala e a olhar-me preocupada. Não olhei para ela, continuei a tentar beber a minha água e a tentar não enlouquecer, sim porque podia não parecer, mas se eu fosse outra pessoa estaria aos gritos com dores. Ela continuou a olhar-me e eu não aguentei mais sem não lhe dar resposta.
-Ah já sei, vieste perguntar-me se a bala que foi usada foi igual à que eu usei no pai - disse sublinhando a palavra eu e pai.
-Por favor... - tentou, abanei a cabeça incapaz de falar e sentindo-me não muito bem por estar a esforçar-me. Fechei os olhos e deixei o copo ir para onde quer que fosse. Não grites, não grites, não grites pensei para mim e cerrei os dentes controlando toda a minha respiração.

-Sim. - concordei, tentando dar uma gargalhada seca, mas naquele momento não estava com grande vontade de mostrar os dentes. Dei a minha mão a Axl, para ele controlar a raiva, antes que se passasse com a mãe. A última coisa que eu queria ver naquele momento eram mais discussões familiares, já chegavam as que tinha com a minha. E por pensar nisso, tinha de ir ver deles não tardava muito. - Acho que está na hora de se irem embora. - sugeri, para que Axl se acalmasse. Olhei o homem que tinha tratado daquele golpe nos meus queridos abdominais - De qualquer das maneiras, obrigada.. - agradeci, esperando que ele completasse a frase com o seu nome. A outra não merecia agradecimentos, a única coisa que foi ali fazer foi fazer como Axl levasse um tiro. Não sabia qual era a opinião de Axl e se ele ainda queria falar com a mãe, mas se fosse para isso eu preferia não estar ali ao lado a dizer mais asneiras.

Abanei a cabeça enquanto ela dizia que se deviam ir embora.-Vai e leva o teu querido quase assassino - disse referindo-me a quem tinha disparado sobre mim.
-Desculpa - murmurou e saiu, apesar de ainda ter demorado um bom tempo a pensar se o deveria fazer ou não.
-Puta. - resmunguei sentindo o suor a cair pela cara fazendo comichão.
-Bem, então eu vou-me. Axl - chamou-me e eu virei a cara abrindo os olhos - cuidado com as infecções... Queres alguma coisa para... - abanei a cabeça negando. Voltei a virar a cabeça para Amanda e fechando os olhos. Desta vez precisava de sentir alguma coisa nem que fosse dores. Quando ele foi embora abri os olhos para vê-la.
-Obrigado - agradeci - mas gostava de saber como é que vou sair daqui - tinha a sensação que se me mexesse me desmontava.

Spoiler:

Coloquei a mão no peito dele, impossibilitando-o de se levantar.
-Nem penses! - neguei, mudando a minha posição de joelhos para pernas à chinês. - Tu vais ficar aí, o tempo que for preciso! - mandei, calando-me em seguida. Ao fim de uns segundos nos meus pensamentos intimos e ... estranhos da minha cabeça sobre aquilo tudo e aquele choque, lembrei-me de uma coisa para perguntar. Uma coisa importante. - Ouviste alguma coisa que eu te disse depois levares o tiro? - perguntei, após respirar fundo e preparar-me para uma resposta que tinha algo medo de ouvir. Quer dizer... eu não estava obcecada por ele. Não dessa forma. Mas, ele é a única, única, única pessoa que eu tinha. E se ele morresse à minha frente... aí, eu não estava a fazer nada à fase da terra... não é que já estivesse.

Spoiler:

Fiz um esforço para me lembrar, mas só conseguia repetir na minha mente as várias vozes gritadas e ditas ao mesmo tempo, as sombras das várias pessoas (só Amanda e a minha mãe) e a sensação de querer fechar os olhos.
-Não, porquê? Disseste alguma coisa importante? - Perguntei sentindo-me nada bem disposto.

Respirei de alívio e recompus-me.
-Não, nada de importante. - menti, com uma voz mais fininha do que o costume. Levantei-me e tentei mudar o assunto - Hamm... sabes que... - tentei lembrar-me de algo importante, quando uma ideia me surgiu na cabeça - Sabes que os meus tios vão de férias daqui uns dias? - acabei por acrescentar - Devias ir ter comigo lá a casa... pelo menos lá não temos... outros... casais. - tossi, lembrando-me daquela discussão com os outros dois no dia em que tinhamos montado a árvore de natal. Esperava não ver aquela morena agressiva brevemente, visto que ela muito provávelmente me odiava.

-Hm - murmurei agarrando na mão dela e fazendo força para conseguir colocar-me de um modo em que não me doesse tanto. - Pode ser - respondi - até porque não me vou... - parei engolindo em seco porque os analgésicos, isto é, se me deram analgésicos, eles tavam a passar, se não me deram eram só as dores que estavam a piorar. Pestanejei os olhos com força - esquecer da tua prima.

Coloquei-me numa posição que nele fosse prática, visto que me tinha esquecido disso quando me levantei.
-Estás bem? - perguntei, interrogando-me devido aos gemidos de dor dele, mas interrompi aquilo quando ouvi o que ele disse - Esquecer?! Esquecer o quê?! Estiveste com ela?! - arraquei a minha mão da dele e cruzei os braços, tentando mentalmente pensar numa razão para ele ter dito aquilo.

Revirei os olhos tentando manter os mesmos a pestanejar e bem abertos.
-Achas mesmo? - perguntei voltando a procurar pela mão dela. Aquilo era uma estúpidez era quase como se eu estivesse a morrer, bem, sentia-me quase assim. - nem sequer a conheço, mas... - parei novamente sentindo os olhos a fechar com o cansaço - disseste o que ela te fez. - lembrei-a e pela primeira vez contorci-me com dores. - eu preciso de alguma coisa - pedi apertando-lhe a mão - qualquer coisa para as dores.

Coloquei-me atrás dele de joelhos e a minha cara ficou em cima da dele.
-Não te vais drogar. Nem penses! - recusei, esticando os meus lábios e beijando-o - Tu és forte, tu aguentas isto. - murmurei, soltando uma gargalhada depois. - A sério, essa gaja é uma puta. - voltei ao assunto anterior - Ai de ti que alguma vez ouses em pensar sequer comê-la! - ameacei - Ela fará tudo para me estragar a vida! - a medida que ia dando o meu sermão, na minha cabeça iam passando imagens de todas as vezes que ela arruinara a minha vida.

-Mas quem é que falou em drogar? - Perguntei um pouco mais alto do que conseguia e tive que levar a mão à ferida, mas assim era pior. Vi-a a rir-se e fechei os olhos - tu consegues ser como o meu pai - murmurei. - mudas de humor cada vez que pestanejas. - murmurei. Se não tivesse dores, neste momento estava a dormir ferrado, mas como as tinha e ela não sabia ser simpática para me satisfazer a vontade apenas deixei os olhos fechados até adormecer.

-Não digas coisas que não queres dizer. - aconselhei, reflectindo no que ele me tinha dito - Faço-te lembrar o teu pai, é?! - questionei, um pouco mais chateada. O pai dele, na minha opinião, era um egoísta. Suicídio já é egoísmo (tanto que eu já tinha tentando cometer um mais que uma vez), mas suicídio à frente do próprio filho é maldade. Pura maldade. Não era capaz de fazer isso, mesmo que a pessoa já me tivesse apontado uma arma à cara.

-O meu pai era o homem mais divertido de sempre - disse num tom mudo que dava para ouvir bem e que pelo menos me deixava falar - acho que nem metade lhe consegui herdar, ele era... mas ele não tinha o direito... - parei porque nao queria falar do meu pai. Não podia falar dele, pelo menos agora. Sabia que algumas frases não estavam a fazer sentido mas a minha cabeça também não.

-Sim, claro, porque eu, sim, eu sou muito engraçada! - disse irónicamente, num tom ainda irritado - A sério Axl pensa antes de dizeres! - aconselhei novamente, mas ouvi um ressonar e Axl já dormia profundamente. - Arrgh, vai pa merda! - gritei, mas mesmo assim ele não acordou. Levantei-me e fui até à cozinha, arrumei as coisas e bebi um copo de água, que foi interrompido por uns gritos de Axl. Corri até lá toda a tremer e não consegui evitar respirar de alívio quando percebi que eram apenas delirios dele. Voltei à cozinha e molhei uma toalha com água fria para colocar na testa dele. - Pronto, está tudo bem. - acalmei, sabendo que ele não me ouvia.

Abri os olhos e tive a certeza que estava com febre pois sentia-me quente e a soar, mas tremia tanto como se estivesse nu na antártida. Queria e precisava de um cobertor quente para me cobrir, mesmo sabendo que não iria parar de sentir frio. Sentia uma coisa semi-molhada na testa e tirei-a porque estava a congelar-me o cérebro. A minha dor continuava forte e persistente como a minha casmurrisse que precisava de algo para as dores, mas sabia que mesmo que gritasse ela não me ia buscar nada se eu pedisse. Õlhei para ela com o olhar meio mortiço.
-Acreditas que apesar de tudo o que eu já fiz, nunca criei inimigos - parei para respirar e quando recuperei o folgo continuei - que me dessem tiros ou me esfaquessem? Teve que ser os inimigos da minha - parei novamente - mãe? - Perguntei virando novamente a cara e tentando respirar convenientemente, mas era dificil com dores e febre.