Entrada

-Tens a certeza? - Perguntei - de dia não deixamos as luzes acesas. - disse cerrando os dentes, confuso. Nós não ligavamos as luzes de dia e mall tinhamos estado na sala hoje. Ouvi-a chamar-me e revirei os olhos. - O que foi Amanda? Se queres dizer alguma coisa diz logo, não me gastes o nome.

-Vai tomar outro comprimido, por favor! - pedi novamente antes que me irritasse. Aquela conversa não estava a prometer boa coisa. Nada boa coisa, mesmo.

-Compreende uma coisa, é só um comprimido por dia, à noite, não preciso de mais nenhum. - Resmunguei ligando a televisão nas noticias. Uma vaga de assaltos Engoli em seco. Não é em londres, não é em londres Desliguei a televisão novamente e sentei-me em cima da mesa.

-Então pára de agir como um atrasado mental! - resmunguei e levantei-me. Agachei-me na lareira e coloquei duas achas, seguido de um fósforo já aceso. Em pouco tempo já estava acesa e fiquei ali a aquecer-me.

-Pára de me chamar atrasado mental! - Levantei-me com a cabeça a doer. Apaguei a luz e liguei um cadeeiro para não estar ali tanta claridade e fui até á cozinha tomar um comprimido para a dor de cabeça. Era de esperar, drogas a mais, os comprimidos não iam fazer nada. Nenhum deles ia, nem o da dor de cabeça. Só o continuava a tomar por hábito.

Rosnei para dentro e estiquei-me para tirar o telemóvel da carteira. Junto dele encontrei um papel que nunca vira na minha vida.

Liga-me. Dynn.

Mais abaixo tinha o número dele e ainda fiquei um bocado a olhar para aquilo até ouvir Axl a voltar da cozinha e guardar rapidamente o papel no bolso, disfarçando enquanto lia mensagens.

Sentei-me no sofá e fiz uma careta com uma dor na ferida ainda não totalmente boa da bala e voltei a ligar a televisão mudando de canal para um de bonecos.
-O que é que tanto vês no telemóvel? - perguntei curioso.

Tentei arranjar uma desculpa novamente e guardei o telemóvel dentro do bolso, ficando de fora visto que o papel amachucado já ocupada espaço.
-Oh, nada... só a apagar mensagens... - menti com uma cara totalmente normal que por dentro estava a entrar em PÂ-NI-CO porque se o Axl soubesse daquele papel ia-se passar tanto mas tanto que até tinha medo que agarrasse numa arma.

-Obrigado por me mentires Amanda, estou agradecido - disse abanando a cabeça. Não ia gritar, não ia ralhar, não ia berrar nem falar-lhe mal, não valia a pena porque acababa sempre tudo na mesma. Tirei do bolso um cigarro que já tinha feito à algum tempo e procurei pelo isqueiro acendendo-o.

-É verdade! - disse e tirei o meu telemóvel de novo - Precisas de ver? - perguntei e olhei para ele com cara séria para que ele acreditasse em mim. Por favor, não vejas o papel. Por favor, não vejas o papel.

Olhei para o bolso dela e vi uma ponta de papel solta. Apressei-me a ir busca-lo e tirei-lho do bolso. Ri-me quando vi o papel e percebi que era Dynn.
-Liga lá ao gajo - revirei os olhos - ou ele não te larga. - decidi ser irónico.

E de repente ele tirou-me o papel do bolso. Raios! Fechei os olhos enquanto ele lia e como ele não se passava decidi abrir um olho primeiro e depois o outro. Levantei-me, confusa com o que ele dissera.
-Estás a falar a sério? - olhei-o

Encolhi os ombros completamente passado, mas controlei-me e pareci o suficiente normal.
-Gostaste dele certo? - Perguntei - então liga-lhe e combina um encontro. Ele também gostou de ti. - Afirmei acabando com o meu cigarro e começando a fumar outro.

Fiz-lhe uma careta e tirei-lhe o cigarro da boca, atirando-o para o lixo mais perto.
-Ná, deixa... acho que passo... - admiti e virei costas ainda confusa. Algo de muito estranho se passava.

-Fogo, para que é que foi isso Amanda? - Perguntei pegando noutro cigarro e acendendo-o novamente. - Já não se pode fumar nesta casa? - Perguntei-lhe novamente irritado. - E tu dizes que passas, mas na verdade ainda tens aí o numero e vais ligar-lhe porque gostaste dele e ele de ti. Sou homem Amanda.

-E depois? Tenho-te a ti não vou ligar a outro gajo a tua frente! - contrapus e tirei-lhe novamente o cigarro da boca - Oh meu, deixa de fumar! - resmunguei e pus o cigarro de novo dentro do maço que ele tinha na mão, arrancando-o em seguida. Aquele cheiro a tabaco que estava sempre próximo de Axl acabava por ser enjoativo.

-Deixo de fumar se quiser - agarrei com alguma brutalidade no maço e afastei-me dela - Exactamente, não vais ligar a outra gajo à minha frente, vais por trás - revirei os olhos - vai ligar-lhe enquanto eu vou embora - disse saindo de casa com os cigarros na mão.

-Axl espera! - chamei mas ele já estava longe. Tirei o papel novamente do bolso e abri-o. Bem, se era vingança que o Axl queria, era isso que ia ter. Mandei uma mensagem a Dynn a que ele respondeu pouco depois. Acabámos por combinar encontrar-nos no dia seguinte e eu fiquei no sofá a mandar-lhe mensagens até que acabei por adormecer com o telemóvel na mão.

Acordei na manhã seguinte com o sol das janelas entre-abertas a bater-me na cara e o telemóvel na mão. Pisquei os olhos, encadeada com a luz, e quando finalmente me habituei levantei-me.
-Axl? - chamei, procurando-o. Não havia sinal de resposta. Merda, onde é que ele se metera desta vez? Curiosamente senti o telemóvel ainda na minha mão a vibrar e parei estática na sala enquanto lia a mensagem de Dynn. Axl não estava, por isso merda para ele e que se lixe, vou sair com o Dynn. Combinei com ele um sítio e fui até ao quarto me vestir, enquanto mandava uma mensagem a Axl. Ele ainda não aparecera quando saí portanto pronto.

-Axl espera! - pedi mas ele já tinha ido embora. E agora, era suposto ir atrás dele como ele tinha ido atrás de mim? Ainda fiquei uns segundos até decidir ir atrás dele a correr até à Bond Street. Enquanto o fazia ele nem dava por mim, ou simplesmente fingia que não me via. Ainda o vi a entrar em casa e fechar a porta mas fui contra ela e comecei a tocar à campainha até ele me abrir - Axl!

Voltei para trás com um suspiro bem audível e abri a porta vendo-a atrás dela a olhar para mim.
-O que é que queres?- Perguntei encostando a cabeça à porta e a olha-la aborrecido. Não queria mais cenas, já tinha percebido que a tinha magoado e não era isso que eu queria, mas também... se não havia nada... arg.

A sério? O que é que queres? Havia uma parte de mim que depois daquela resposta queria ir-se embora e nunca nunca nunca mais na vida o ver, mas o outro lado acabou por ganhar.
-Eu estou disposta a esquecer este dia se tu estiveres. - embora a tal parte de mim nunca se esquecesse daquilo e simplesmente estava farta de dar oportunidades a um drogado.

Puxei-lhe o braço com cuidado fazendo-a entrar e fechei a porta enquanto me encostava a ela.
-Porque é que eu preciso de esquecer este dia? Não fui eu que saí magoado, foste tu. - constatei endireitando-me.

Senti a minha espinha a arrepiar enquanto ele me puxava e olhei para ele com uma cara neutra e sem saber o que dizer. Os meus olhos vermelhos brilhavam e não sei porquê, também os dele.
-Estás... estás perdoado. - gaguejei com uma voz fina e baixa.

Suspirei aproximando a minha cara da sua, mas beijando-lhe a testa.
-Não me podes perdoar assim, mesmo que eu queria - fiz um sorriso torto e larguei-a. - Vai para a sala, vou preparar um lanche para comermos. - A passadeira entre outras coisas tinham-me dado fome e apetite.