Hospital

Bufei voltando a suspirar.
-Isto ia dar resultado yah? É o máximo que posso fazer - remunguei revirando os olhos. Pressionei os meus lábios um no outro fingindo que não ouvi o que ela tinha dito. Se não o fizesse já estava a gritar. Amanda começou a falar e eu levei a mão à cabeça. - Só saiste de casa porque quiseste Amanda, eu mandei-te esperar em casa e decidiste armar-te em sei lá o quê para acabares aqui! - Disse irritando e levantei-me indo até à porta. - Porra dêem-me um desconto. - Disse saindo do quarto e voltando para o corredor.

Estáva pronta para me levantar e matá-la.
-Desculpa? Tu é que és aqui a puta a arruinar a vida dos outros! Tu devias ter morrido! Não fazes falta neste mundo! Qual é o teu objectivo de vida afinal, arruinares a vida dos outros? Nunca devias sequer ter nascido, tu nem tens uma vida. - estáva a repetir o que dizia, mas enfim - Eu e o Axl estávamos muito bem até tu chegares! - Axl saiu, não me deixando dar-lhe notícia também a ele. Provávelmente tinha perdido os meus dois bebés, graças aquela puta. Não que não estivesse um pouco aliviada, mas simplesmente.. eles eram meus e do Axl, não dela.

Tentei responder-lhe mas comecei a ficar sem energias para falar, mexer-me ou mesmo respirar.
-A..aju... - gaguejei, sem conseguir completar a palavra e perdendo os sentidos devagar.

Sentei na cadeira e levei as mãos à cabeça respirando rápido e tentando acalmar-me. Uma enfermeira passou por mim e viu-me.
-Está a sentir-se bem.
-Estou óptimo, vá fazer o seu trabalho - respondi rudemente sentido melhor assim que ela saiu. Levantei-me numa golfada de ar e voltei a entrar no quarto vendo Brayce com uma parte da seringa e a agulha espetada na cara de Amanda. Arregalei os olhos e abri a boca entrando pelo quarto a dentro.
-O que é que fizeste? - Gritei olhando-a e retirando a agulha e o soro que estava ligado ao pulso dela.

Olhei para ela com a boca aberta imitindo um som de indignação.
-Brayce, ela está grávida e não é como nós! - Chamei-a à atenção - Pode ter uma overdose! - disse no mesmo tom.

-Não, não iria ser uma pena e sabes muito bem que não quero ser pai Brayce, mas ela quer e não a posso obrigar a fazer nada - Gritei-lhe olhando-a, estava tão pálida que até fazia impressão. - Estás num hospital e agora? Vai tudo sair nas análises que lhe vão fazer. - Disse começando a ficar stressado.

-Eu quero lá saber o que é que é essa merda! - exaltei-me - não sai assim tão rápido do sangue, se descobrem e a começam a investigar eu estou lixado Brayce, estou farto de andar por ai fugido da polícia. - disse tentando acalmar-me. Aquela porcaria de ressaca estava a fazer-me sentir mais irritado do que ficaria se estivesse todo mocado. Limpei o sangue da bochecha de Amanda e ouvi uma enfermeira nova entrar. Nem reparou em Brayce, apenas entrou e viu as fichas de Amanda. Parecia uma morta viva.
-Tenho que ir a casa - disse pondo-me à frente da enfermeira. - Se ela acordar diga-lhe que volto ainda hoje.
-Sim está bem - disse saindo sem sequer reparar em Brayce. Virei-me para ela.
-Vou até minha casa! Agora faz o que quiseres - resmunguei saindo.

Acordei encadeada nos olhos, vendo três luzes às voltas. Tossi, tentando melhorar a minha respiração, mas sem resultado. Tentei mover-me, soltando um pequeno grito de dor. Não me lembrava o que acontecera e olhei devagar para os lados, procurando sinais. Vi a porta entre-aberta e gemi novamente, chamando a atenção de qualquer movimento que tinha passado por lá. Estáva zonza mas reconheci alguém a entrar.
-Amanda? - reconheci a voz da médica que tinha feito a ecografia há uns dias
-Jade? - perguntei
-Sim. O que está aqui a fazer? - notava-se a sua voz preocupada e em divisão dividida em três, vi-a a agarrar nas folhas que estavam em cima de uma mesa e a ler.
-Eu.. tive um, problema.. - murmurei, fechando os olhos para descansar a vista. Quando voltei a abri-los, já vi-a melhor, mas vi-a um palhaço atrás de Jade a fazer palhaçadas, do qual ela não dava conta. Arrepiei-me, devido ao meu medo a palhaços, mas tentei ignorá-lo voltando a tomar atenção a ela.
-Sim, já vi que sim. - a sua voz parecia mais irritada. Tirou uma seringa da mesa e arrepiei-me novamente, ao vir-me um flash à cabeça. Manti-me calada, para proteger Axl. A sério Amanda? ouvi de novo a minha voz a dizer Ele fugiu com a Brayce e tu ainda o proteges? Ela tinha razão, mas.. Eu manter-me-ia fiel.. ainda. Recolheu-me uma amostra de sangue e guardou-a. - Onde está o Axl?
-Ele.. - não continuei a frase, embaraçada. Ela assentiu com a cabeça, percebendo.
-Vou pedir ao médico para me passar o seu "caso". Volto daqui bocado. - fiz o melhor sorriso que consegui, ficando zonza novamente e fechando os olhos, apenas ao som da máquina do ritmo cardíaco, elevado.

Entrei na porta do quarto e vi-a com os olhos fechados, mas conseguia ver pela máquina e pela sua respiração que já não estava adormecida.
-Amanda? - Chamei-a à porta e fui até ela devagar sentando-me numa cadeira e olhando para ela curioso para ver como reagia.

Reconheci a voz de Axl, arrepiando-me pela terceira vez- Franzi o sobrolho, sem abrir os olhos.
-O que queres? - perguntei, com o tom de voz rouco mas que se notava chateado - Pensava que tinhas fugido com a tua princesa. - disse, com uma voz algo irónica.

Bati com a cabeça no ferro da cama duas vezes seguidas e revirei os olhos.
-Uma diz Amada outra diz Princesa. Vocês acalmem as hormonas - resmunguei - eu fui a casa, precisava de tomar um banho e ir ver a minha Pinkly, depois passei por casa dela para lhe dar a metade do que faltava - resmunguei - aliás eu nem preciso de me justificar... - Suspirei tentando acalmar-me - como é que te sentes?

Abri os olhos, ainda meio tonta e sem saber certo onde olhar.
-Achas que sou estúpida?! - perguntei, aumentando o meu tom de voz - Já agora, também te esqueceste do preservativo com ela?! - suspirei, colocando uma das mãos na minha barriga. Era óbvio que os bebés "já não estavam entre nós".

Percebi o que ela queria dizer e levei a mão ao cabelo.
-Não sei Amanda, não sei - na verdade nem me lembrava se tinha usado ou não - e não te esforces - pedi-lhe recostando-me na cadeira e suspirando cansado do dia.

Deixei cair uma lágrima do olho, mas limpei-a de seguida.
E tu deixaste que ela me drogasse. - acusei - És tão imbecil. - abanei a cabeça e virei-a, de forma a não olhar para ele

Levantei-me olhando-a.
-Desculpa? Eu saí por pequnos minutos e só conseguia ouvir a vossa gritaria! Não tenho culpa que não se saibam comportar - disse alto parando quando a médica do outro dia entrou fazendo-me voltar a sentar enquanto uma das minhas pernas tremia rápido e irritantemente.

Jade entrou no quarto, com cara de preocupada e ao mesmo tempo nervosa.
-O que se passa? - murmurei, embora já estivesse à espera da resposta.
-Encontrámos vestigios de droga no seu sangue. - olhei para Axl, esbugalhando os olhos o mais que consegui - Vai ter de me responder a esta questão, é muito importante para a sua saúde. Consumiu drogas?
-Não definitivamente, eu.. - bloqueei naquela frase, sem saber bem o que dizer.

Levei os meus dedos à cana do nariz e fechei os olhos. Estava lixado, completamente. Amanda com a raiva com que tinha de mim ia contar tudo e se não contasse para a proteger ainda tinha que admitir que era eu quem me drogava. Engoli em seco. Tinha que voltar a mudar de casa, conhecer outra cidade e habituar-me a outras pessoas, aquilo estava a tornar-se cansativo.
-Não - disse à medica olhando-a e tirando a mão da cara - Drogaram-na. - disse simplesmente.

A médica olhou para Axl com cara de "és o culpado", o que me levou a mentir pela cara de cachorrinho abandonado.
-Não foi ele. - menti, fazendo-a acreditar
-Então...
-Foi uma rapariga. Uma estúpida e idiota rapariga.. - murmurei baixinho, fixando o meu olhar ao chão.
-Muito bem. A notícia que tenho para vos dar não é muito boa. - levantei a cabeça, deixando cair mais uma lágrima. Quando olhei para a médica percebi o que se estáva a passar. Reencostei-me, suspirando e olhando pela janela, sem nada dizer ou demonstrar.

-Adeus - disse não dando tempo nenhum à médica para dizer o que se passava. Ela olhou-me - Eu já percebi, já fez o seu trabalho, já me acusou, agora pode ir embora está a perturbar uma doente - disse-lhe.
A médica deu dois passos na minha direcção mas deve-se ter arrependido porque se virou para Amanda e disse:
-Lamento. - e foi-se embora como eu tinha pedido.
Eu nem sabia como é que me sentia, aquela porcaria de farmacia teria dificultado muito mais as coisas se estivesse aberta, mas não, adoram-me dificultar a vida.

Respirei fundo, sem dizer nada nem me mexer.
-Agora que já não estou a carregar dois filhos teus acho que te podes ir embora como sempre quiseste. - murmurei, sem retirar o olhar da janela.