Hospital

Coloquei o meu maxilar inferior para a frente e suspirei. Olhei novamente para Amanda que estava a assistir a tudo e abanei a cabeça.
-Estás mesmo muito desesperada - disse-lhe começando a arrumar o saco.

Fiz Amanda levantar-se e dei-lhe a mala, sem fazer qualquer expressão facial.
-Como queiras - respondi-lhe virando costas e começando a andar em direcção à estrada, novamente. Olhei Amanda e suspirei - vens ou ficas? - Perguntei com a maior das vontades para ir para casa.

Ainda estáva a pensar no que a gaja me tinha dito e nem sequer ouvi a pergunta de Axl. Manti-me imóvel, sem dizer nada, com algumas lágrimas nos olhos. Quantos filhos tem ele? Quantas raparigas já comeu e ainda vai comer? eram duas perguntas que não me saiam da cabeça.

- Amanda! - Gritei-lhe tentando chamar a sua atenção e fazendo parar um taxi - Vens ou ficas? - Voltei a repetir.

Abanei a cabeça, levantado-a.
-Eu.. ham... - não conseguia pensar em mais nada - Eu.. eu.. - nada me saía da minha boca. Levantei-me e comecei a andar de um lado para o outro, raciocinando - Talvez ela tenha razão, tu não queres ficar comigo. Deves ter uma catrefada de filhos e.. e.. - baixei a cabeça, sem saber o que dizer - eu vou ser abandonada, mais cedo ou mais tarde. - murmurei o mais baixo que pude, esperando que ele não ouvisse.

A minha testa enrugou-se e os meus lábios levantaram-se formando uma expressão estranha e confusa. O que ela dizia não fazia o minimo de sentido. Abanei a cabeça e suspirei agarrando no seu braço e enfiando-a dentro do taxi.
-Para Bond Street. - disse rudemente ao taxista.

Suspirei, ainda de cabeça baixa. Manti-me calada, sem nada para dizer. Só levantei a cabeça para olhar pela janela e vendo os imensos turistas felizes por estarem em Londres, a grande e maginfica capital inglesa. Era estúpido as poses que faziam para a câmera, o que me arrancou um pequeno sorriso. Passámos pelo Big Ben e reencostei-me ao banco, voltando a baixar a cabeça.

Puseram-me na rua nas vezes em que tentei entrar no quarto de Amanda e no quarto de Brayce para saber como é que as duas estavam. Fiquei num maldito corredor a falar sozinho e a tentar perceber alguma coisa do que tinha acontecido. Uma enfermeira saiu do quarto de Amanda e levantei-me.
-O que é que se passa com ela? - Perguntei pondo-me à frente dela.
-O que é à rapariga?
-Sou pai dos filhos - disse incrédulo, tinha-me apresentado antes. - Se é que ela ainda os tem! -Resmunguei.
-Acalme-se - disse saindo e entrando no quarto de Brayce que era ao lado. Revirei os olhos espreitando para dentro e voltei a sentar-me. Passado meia hora a enfermeira voltou a sair e eu fui ter com ela. - Como é que está a Brayce? - Perguntei. A enfermeira ergueu uma sobrancelha.
-O que é à rapariga? - Voltou a perguntar. Que velha cusca!
-Am... - encolhi os ombros - sei lá, companheiro de... noites?! Não sei diga-me como é que elas estão! - exclamei suspirando e voltando a sentar-me.
-É o Axl? - Perguntou-me. Assenti.
-Qual delas perguntou por mim?
-As duas.
Levei as mãos à cabeça e revirei os olhos. Quem é que te manda ser tão bom Axl?

Acabei por acordar sem saber quando tinha adormecido e o que tinha acontecido depois de entrar na ambulância e o coração da outra ter deixado de bater. Ouvi duas máquinas com um ritmo cardíaco parecido e tentei olhar para o lado, percebendo que a gaja tinha sobrevivido. Porque é que não morreste logo? perguntei a mim própria.
-O que.. O que estás aqui.. a fazer? - gaguejei baixinho, franzindo o sobrolho. - Onde.. Axl? - perguntei. Estáva totalmente fora: fora das notícias, fora do mundo.. Quando olhei para a minha barriga - Os bebés? - questionei por último, sem saber se alguém me estaria a ouvir.

O corredor estava novamente silêncioso, era impressionante, naquele hospital nada se passava, se tivesse tomado alguma coisa antes de vir para cá podia ver fantasmas mas como nem me tinha preparado nem com isso me podia entreter. Ouvi o meu nome num grito e levantei-me olhando para os lados. Dei uns passos até à porta por onde a outra enfermeira tinha entrado e saido e espreitei vendo Brayce. Entrei de mansinho vendo que estava acordada e olhei para os lados vendo Amanda. Dei um estalo na testa com a mão e bufei. Really? Puseram-nas juntas? E eu a pensar que a enfermeira estava a supervisonar as duas de quartos diferentes. Isto ia ser bonito ia.
-Estão vivas! - ironizei pegando numa cadeira e colocando-a ao meio das camas delas para as verem.

Suspirei. Eu sabia que aquilo ia acontecer.
-Só vos fazem bem e aliás tu não vais fazer nada porque nem em pé te aguentas - avisei-a. Ohei para uma seringa com morfina e sorri, depois voltei ao mundo e apercebi-me de onde estava. Se me descobriam estava lixado. Já estava a arriscar de mais ao estar aqui tanto tempo.

Levantei uma sobrancelha olhando para ela. - Dou-te um toquezito e cais no chão - gozei e fui pegar na seringa passando-a para ela - é toda tua. - disse voltando a sentar-me.

Revirei os olhos espreguiçando-me e esticando-me no sofá.
-Sim? - perguntei bocejando-o - Vocês dão muito trabalho - resmunguei.

Encolhi os ombros sorrindo com o que ela tinha dito e entretando voltei a bocejar. Enquanto ela preparava lá as coisas dela reparei o que queria fazer e levantei-me pegando no isqueiro e verificando se o frasco era de plastico. Sortuda como ela era, o frasco era de vidro e eu fui sentar-me enquanto punha o isqueiro de baixo daquilo.
-Agora esperas, não me apetece sair daqui para ir buscar outra coisa - resmunguei. Aquilo podia não ser a melhor resolução mas era a que havia.

Decidi manter-me em "auto-invisibilidade" mas não conseguia deixar de ouvir a conversa por isso virei-me de novo para eles, um bocado melhor depois daqueles momentos de silêncio absoluto, mas continuando irritada.
-A sério? - perguntei, percebendo tudo e tudo gota por gota - Foi com ela que passaste este tempo todo? Enquanto eu dormia no chão numa rua perto da Tower Bridge?! - aumentei o meu tom de voz, ficando um pouco roca - A sério?! - repeti, abrindo a boca para inspirar de novo. Pensei em abrir a boca para dizer tudo o que tinha na cabeça, mas manti-me calada, assim como a minha voz "interior" desde que eu a mandara calar, de novo.