Jardim da Universidade

- Sim, claro. - sorri.
A verdade é que fiquei bastante feliz com a proposta dele. Não tinha ninguém conhecido com quem estar e não queria mesmo nada despedir-me dele, estava a gostar de ter um amigo.
Saímos da secretaria, indo dar outra vez ao grande jardim.

Se me tivessem dito à uns tempos que estaria na companhia de uma rapariga, pronto a explorar mais um bocadinho da Universidade, teria-me rido. Era frequente que a maior parte das pessoas me achasse um rufia. Mal viam as tatuagens, faziam logo os seus próprios juizos.
Estava contente por não estar a ser assim. - Era suposto termos um mapa ou algo assim? - Perguntei no gozo, considerando a hipótese que nos poderíamos perder por ali.

- Pois, também acho que sim mas acho que nos safámos sem ele. - ri-me.
Andámos durante uns 20m e parecia que estávamos sempre no mesmo sítio, parecia um labirinto. Parei num dos bancos sentando-me.
- Já estou cansada apesar de parecer que nunca saímos do mesmo sítio. - respirei fundo. - Acho melhor ficarmos aqui um pouco é que tenho de organizar as ideias, não faço a mínima ideia de onde estamos. - apesar de estar a tentar levar aquilo na brincadeira, eu não sabia mesmo onde estávamos.
Fiz sinal para que se sentasse ao meu lado.

Tinhamos caminhado por um bom tempo. Visto de fora a Universidade parecia grande, mas só cá dentro é que percebíamos que era de uma área colossal. Tão grande assim que já nos perdaramos no caminho, e não, não havia nenhum mapa para nos orientar.
Senti-me ao lado de Zoe, no banco e parei para pensar um bocadinho. - Se isto acontecer todos os dias, não sei como vou conseguir chegar à sala de aulas - Disse divertido, apesar de ser uma exagero.

- Podes crer. - ri-me juntamente com ele. - E agora? Não faço a mínima ideia de por onde temos de ir. - olhei em redor tentando lembrar-me de uma saída.

Não estava muito preocupado com a parte do caminho. Desde pequeno que era costume me perder pelos sitios, no entanto chegava sempre intacto a casa. Aqui não seria diferente - Podemos ser continuar a caminhar. Havemos de dar a algum lado.

- Sim, o pior é que está a começar a ficar escuro, eu tenho fome, eu quero ir à casa de banho e quando eu quero muitas coisas eu fico chata... Ok, vou calar-me. - tu e a tua boca grande Zoe.
Levantei-me e comecei a caminhar atrás dele, haveríamos de encontrar alguém ou alguma coisa.

Tinha de admitir que me estava a divertir apesar das circuntâncias. Zoe era engraçada. Devias conviver mais vezes Hunter...
Depois de algum tempo a andar-mos já era possivél avistar-mos os dormitórios, ou pelo menos era o que pareciam - Vês, chegamos são e salvos.

- Finalmente... - disse já bufando quando avistámos os dormitórios. - Eu acho que vou ficar por aqui hoje, é tarde para voltar à cidade. E tu? - por mais estranho que pareça, torcia para que ele ficasse.

No mau âmago, desejava que tivessemos continuado perdidos.
- Acho que hoje também já não deve haver grande coisa para ver em Londres. - Amanhã daria uma vista de olhos mais pormenorizada, e passaria pelo Hard Rock, onde ia trabalhar - Então é aqui que nos despedimos? - Perguntei, absorto em pensamentos.

Passei o meu olhar pelo seu.
- Parece que sim. - fiz um sorriso torto. - Dá-me o teu telemóvel.
Ele passou-mo e apontei lá o meu número.
- Se precisares de alguma coisa, é só dizeres. - devolvi-lho.
Aproximei-me dele, hesitando um pouco, mas acabei por me despedir dele dando-lhe dois beijos na face. Senti as minhas bochechas quentes e despachei a conversa para que ele não reparasse.
- Adeus. - acenei e entrei para o dormitório.

Pensei que nunca mais nos falaríamos, pensei que ela no fim desse uma desculpa qualquer para que nunca mais estivesse de estar comigo. Afinal não. Tinhamos trocado os números de telemovél, e tencionava utilizar aquilo.
Quanto aos pequenos beijos que ela me deu deixaram-me sem reacção. Ficara mesmo um pouco aparvalhado. Não era nada, mesmo nada costume isto acontecer comigo.
- Adeus - Disse, mas ela já estava longe de mais para me ouvir.
Rodei os calcanhares e dirigi-me até ao meu dormitório.
Tinha sido um dia longo, no minimo estranho e divertido.

Entrei no dormitório e sentei-me na cama. O dia de hoje tinha sido extremamente cansativo mas valeu a pena... Conhecer o Ash foi a melhor coisa que me podia ter acontecido, apesar das circunstâncias em que nos conhecemos.
Tirei a roupa e vesti uma camisola e uns calções que tinha para lá, deitando-me na cama. Fechei os olhos mas o sono não me vinha. Sempre que os fechava os momentos de hoje voltavam a repetir-se. Andei às voltas na cama durante uma hora e sem sinal de sono. Fui ao telemóvel ver se o Ash me tinha mandado algo, afinal foi ele que ficou com o meu número e não eu com o dele. E agora, como ia contactá-lo? Aposto que ele não o iria fazer. Provavelmente, nunca mais nos falaríamos.

Segui para o meu dormitório. Arrumei algumas das minhas coisas mas como não traia muita coisa, ocupara pouco do meu tempo. Deitei-me na cama mas era impossivél adormecer. Tinha sido um dia diferente. Um novo começo para mim. E achei que não podia ter tido melhor companhia se não a Zoe. Estava inquieto e não conseguia dormir, já à algum tempo. Fui buscar o meu telemovel e arrisquei mandar-lhe um sms.

Senti o telemóvel vibrar e imediatamente peguei nele. Um sorriso escapou volta e meia quando vi quem assinava a sms... Ash.

Não pensei durante muito tempo se ia ou não até ao quarto dela.
Vesti apenas um t-shirt para não ir só de boxers e saí do meu quarto, e do dormitório também. Discretamente entrei no dormitório das raparigas e procurei pelo quarto dela.
Bati à porta, que já estava aberta. Entrei cautelosamente - Hey...

Rapidamente me sentei na cama quando o ouvi entrar.
- Hey... - murmurei e sorri, envergonhada.
Olhei para ele que estava apensa de boxers e t-shirt e a minha mente voou.
- Deves estar a morrer de frio... Anda para ao pé de mim. - bati com a mão na restante cama.

Olhei para ela e isso fora suficiente para parar a inquietação que sentia. Fechei a porta do seu quarto e sentei-me na cama, ao seu lado. Isto era suficiente para esquecer todo o frio que estava lá fora - Olá outra vez. - Disse um pouco envergonhado.
Mas o que raio pensas que estás a fazer Hunter?!

Fica um pouco nervosa quando ele se sentou ao meu lado. Ambos nos esticámos cobrindo-nos com o cobertor, e virámo-nos um para o outro.
- Não sei o que se passa comigo, não consigo adormecer. - disse olhando-o nos olhos.
Estava muito próxima dele, conseguia sentir a sua respiração em mim.

Senti-a a minha pulsação bater mais depressa. Incomodava-me estar a sentir-me assim.
- Eu podia dar-te uma desculpa ou duas mas a verdade é que acho que não consigo dormir por causa de ti. Preenches-me o pensamento - Queria ter rido para quebrar a grande palermice que tinha dito. O meu problema era nunca saber quando fechar a boca, ou parar de falar quando sabia que ia sair asneira. Só que não pude evitar. Tinha sido sincero - Isto é... Bem...
Estás a enterrar-te ainda mais Ash...

Quando ele disse aquilo, engoli em seco. Não estava nada à espera que aquele fosse o motivo da sua insónia.
- Sendo assim, eu também tenho de admitir que o mesmo se passa comigo. Sempre que fecho os olhos lembro-me do dia de hoje, mais precisamente de ti... - sorri levemente. - Estava com medo que não mandasses sms.
Há muito tempo que não me sentia assim...

Acho que estava a delirar. Teria ela dito mesmo aquilo? Esperei que isso significasse uma coisa boa. - Seria fazer pouco uso da inteligência se não o usasse - Admiti, corando um bocadinho.
- A verdade é que gostei de te conhecer e ainda não to tinha dito. Agora já sabes .

- Eu também gostei de te conhecer. Apesar da forma de como isso aconteceu, gostei muito... - olhei-o nos olhos e senti os meus brilharem.
Remexi-me um pouco na cama e a minha mão que estava debaixo dos cobertores foi de encontro à sua. Quando toquei nela, senti um turbilhão de sensações percorrer-me o corpo.

O toque da mão dela na minha alarmou-me. Não esperava sentir novamente nada com o toque dela, tal como acontecia com o toque das outras pessoas. Estivera sempre sozinho e agora estava aqui. Um pouco baralhado das ideias levantei-me abruptamente da cama e fiquei em pé a olhar para ali. - Desculpa - Murmurei, sentindo-me a pessoa mais parva do mundo. Custava-me acreditar que ela não estava a ser como as outras pessoas, desejando que eu estivesse a quilometros de distâncias. Avancei lentamente para a cama e sentei-me por cima dos lençóis - Ás vezes sou um pouco parvo. - Esperei que isto servisse como desculpa.

Quando o vi sair da cama, fiquei um pouco confusa.
- Não tem mal... - ele sentou-se a meu lado novamente e eu apenas a cabeça.
Eu era uma estúpida! Nunca ninguém até aqui tinha olhado pra mim e eu estava com esperanças que desta vez fosse diferente.