Hospital

-Está bem - dei-lhe um beijo puxando os meus boxers para cima. - Mas vê lá o que lhes compras. E.. dá uma especial atenção ao Fred, ele não está muito bem. Hoje não quis comer - suspirei vestindo as calças.

Levantei a sobrancelha quando a vi a rir-se, mas não liguei muito vestindo a t-shirt e a bata. Fui até ao espelho espetando ainda mais o meu cabelo e percebi. Abri a porta, depois de ela se despedir e vi-a ao fundo do corredor - vais pagar-mas. - ri-me.

Passei a mão pela testa e respirei fundo.
-Merda, merda, merda - levei a mão até ao meu pescoço tentando acalmar-me. - Vá lá puto, reage. - pedi à criança que estava à minha frente praticamente a morrer. - Vá lá - pedi baixinho. Uma coisa que eu tinha ensinado logo aos meus internos foi: não se agarrem muito ao paciente, queremos a vossa sanidade mental para curar. Eu tinha feito totalmente o contrário e eles agoram olharam-me. Ouviu-se um bip e eu suspirei quando ele começou a estabilizar. Respirei fundo para depois bufar e olha-los. - Desapareçam - mandei-os embora com as mãos e olhei para a mãe que estava do lado de fora, já um bocado aliviada. O miúdo chamava-se George, tinha pouco mais se seis anos e era tão, mas tão parecido ao Fred que nem sequer hesitei quando o aceitei. Ele era um puto inteligente e safado, estava no hospital à um mês e agora estava praticamente a morrer. Olhei para as horas, estava novamente atrasado. Devia ter saído às seis e já eram nove da noite. Não dava mais, tinha que ir para casa, se continuasse assim não conseguia voltar ao trabalho. Fui ter com a mãe do miúdo e expliquei-lhe o que tinha acontecido, dei-lhe o meu número de telemóvel privado para que se algo acontecesse ela me chamásse logo que eu vinha a correr. Despedi-me dela e fui para casa.

Cheguei ao pé de Brayce e tive medo que ela achasse que eu estivesse a consumir. A verdade é que não estava em muito bom estado.
-Ela caiu e.. acho que bateu com a cabeça - disse baixo.

-Sim, isso é um bocadinho óbvio - fiz uma careta a Brayce apesar de que nesta vez eu não queria chateá-la ou irritá-la. Coloquei-a na maca tirando-lhe depois o cabelo dos olhos e olhei para Brayce quando me perguntei se estava bem. - Estou. - disse baixo. - Preciso de café.

Os meus olhos abriram e estava em movimento. num corredor. de um hospital. Mas que bom, só me faltava mais esta, pensei e tentei olhar para a figura com os cabelos loiros à minha frente - O que aconteceu? - murmurei olhando em redor e engolindo a seco - Quero água... - pedi antes que a rapariga me respondesse.

Olhei-a. como raio é que eu era suposto saber o nome dela? Esbugalhei melhor os olhos, observando-a, até reconhecer a sua face - B... Brayce? - reconheci e assim que o fiz levantei-me quase à velocidade da luz, ficando com mais tonturas, e afastei-me dela - Não! Tu vais tentar arruinar-me a vida novamente!

-Tenho a certeza que estás a fazer o teu trabalho e que há gente que precisa mais dos teus cuidados do que eu, por isso podes ir e trazer-me outra pessoa! - argumentei soltando os meus braços das mãos dela e afastando-me novamente.

-Não há mais médicos neste sítio?! - resmunguei fazendo o que ela me pedia com as sobrancelhas baixas. A gaja ainda me drogava outra vez e eu via a minha vida a ir pelo cano a baixo. outra vez. e não posso esquecer o facto que sempre que olho para ela dá-me arrepios a pensar em tudo aquilo que passei.

Suspirei cruzando os braços e fechando os olhos para acalmar as dores violentas de cabeça - Estou só com umas dores de cabeça. Mais nada. - respondi reconfortando-me na maca. - Não me podes só dar uns comprimidos e deixar-me ir?

Eu bati com a cabeça Brayce, é claro que é normal! - contrapus observando-a deitada a ligar aquela máquina esquisita - O Axl? - perguntei. - E a minha água? - acrescentei também.

Coloquei o copo do café no lixo e esfreguei os olhos sentindo uma dor de cabeça esquisita, mas que doía mesmo muito. Quando tirei as mãos dos olhos e olhei para o lado vi uma pessoa que não queria e me assustava verdadeiramente. Engoli em seco e tentei ignorar, mas ele sentou-se ao meu lado e tocou-me no ombro dando leves pancadas no mesmo.
-Então puto, por aqui? - Não lhe respondi, da última vez que tinha falado com ele, tinha descoberto que era esquizofrénico, ele não existia, não existia.Fechei novamente os olhos com força e levei as mãos à cara tentando não falar com ele. O pior é que ele tocava-me e eu sentia-o, como é que ele não pode ser real? Olhei para as pessoas a passarem à minha volta, que me olhavam com uma cara desconfiada. - Estás a sentir-te bem? Fala comigo Axl - abanou-me fazendo-me olha-lo- estás a suar, estás bem?

Bufei, deixando-a vencer desta vez. Deixei-a fazer o exame, entrando nos meus pensamentos esquisitos e estúpidos típicos de uma pessoa totalmente (não) normal, como eu, e quando terminei dei um sorriso cínico, ignorando as dores. - A água, por favor? - pedi novamente