BigBen

Olhei para ela, surpreso mas ao mesmo tempo feliz. Só desejo que essas palavras se tornem verdadeiras, pensei. Fosse para onde fosse acabava sempre por ficar sozinho. Ainda só estava com ela à um dia mas já me era dificil imaginar que poderia deixar de ser amigo dela, eventualmente.
- É bom que não, se não terei de encontrar todos os vagões que andem por aí abandonados para te salvar novamente de sarilhos.

- Eu prometo que no que depender de mim isso não vai acontecer. - aproximei-me dele e beijei-lhe a bochecha, sorri e corei um pouco.

- Assim fico mais descansado - Declarei, depois de ela me ter pregado aquele pequeno beijo que me deixou com um sorriso tolo na cara. - Aham... vamos explorar mais m bocadinho?

- Sim. - disse entusiasmada. - Que tal passarmos à Tower Bridge? - sugeri.

- Parece-me bem. Vamos indo então - Peguei na mão dela esperando que não houvesse problemas e começamos a caminhar em direcção até ao próximo destino.

Levei-a para o BigBen e fi-la sentar-se num banco verde perto das grades que nos separava do rio.
-Está-se bem aqui? - Perguntei sentando-me com ela e vendo as pessoas a passarem de um lado para o outro. Umas felizes, outras deprimidas, nós éramos os neutros. - Queres algodão doce? - Perguntei ao ver um homem a fazer um para uma criança.

-Não, não - resmunguei levantando-me e fazendo-a sentar-se de novo. - Eu vou - ri-me e corri até ao homezinho que estava pelo menos a cem metros de nós. Estive na fila durante dois minutos e durante esse tempo reparei em dois homens que falavam e não paravam de olhar para mim. Peguei no nosso algodão doce e paguei ao senhor voltando de novo para o lado de Brayce.
-Não diga ao doutor que lhe estou a dar isto, menina - gozei tirando um bocado de algodão doce e olhando de lado para eles.

Abanei a cabeça - nada, deve ser só um dos capangas do meu irmão a confundirem-me com ele, nada de mais - garanti tirando mais um bocado. - Eu podia viver de algodão doce - ri-me mudando o assunto e tirei o açúcar da cara a rir-me como se fosse um puto.

-Não fazia nada, fazia-me era rebolar - ri-me pegando num bocado mais e olhei-a. -Das seis às quatro da manhã - respondi fazendo uma careta e suspirei rindo-me de seguida com a sua cara. - Se fosses assim para o hospital os diabéticos iam crer lamber-te - gargalhei vendo o açucar todo nos lábios dela. - Os diabéticos e os médicos - avisei aproximando-me dela e beijando-a, para quando me separei dela lamber os meus lábios - sabes a algodão doce.

-Sortuda. E não me leves a mal, mas aquele hospital tem mais otários que outra coisa. Não que sejas um deles. Somos chefes da categoria por alguma coisa - ri-me pegando no resto do pau que antes tinha o algodão doce e tirei o resto que era pouco. Sentia os olhos deles ainda presos em nós e respirei fundo. - Eles estão a incomodar-te? - Perguntei - é que se estiverem eu vou lá e ainda faço...

Os meus sentidos ficaram à alerta e olhei para os homens que estavam a vir na direcção, não minha, não nossa, mas dela. Da minha garganta saiu um barulho de desprezo.
-Não vou nada - resmunguei.

-Não vou nada. Não posso simplesmente ir embora e deixar-te aqui não é? – Resmunguei e vendo os dois homens aproximarem-se deslizei para a frente de Brayce, como se fosse guarda-costas. O homem mais gordo, com mais ou menos oitenta e oito quilos, pelo menos aproximou-se de mim para me intimidar e eu fiz uma careta gozona.
-Lamento, não sou homossexual, mas não tenho nada contra – disse-lhe e vi uma coisa brilhante na mão dele. Levantei a perna, e com o joelho, não foi preciso fazer muito para que a coisa brilhante, que era uma faca caísse para o lado. O homem olhou assustado para a faca demasiado longe do seu alcance. Como era demasiado gordo, ao tentar dar-me o murro, demasiado devagar consegui apanhar o seu braço e torci-o até partir. Ele caiu para o lado a gritar que nem uma menina . Outro homem, o mais magro e careta chegou-se ao meu lado e talvez por ser mais rápido conseguiu cortar-me o abdómen. Praguejei e agarrei no colarinho dele quando tentou agarrar em Brayce. Coitado, era tão pequeno e magro, que apesar da sua agilidade, apenas com uma mão eu conseguia agarra-lo. Mandei-o para o chão, mas como sabia que se o deixasse ali ele ia voltar a atacar-nos dei-lhe um pontapé na cabeça que o pôs a dormir. Cansado e com as pessoas todas atrás de mim virei-me para Brayce para ver como ela estava.
-Vamos?

-Querias que eu te deixasse aqui e que eles te fizessem mal? - Perguntei levando o lenço que ela me tinha dado à ferida. - Não te preocupes que eu sei tomar conta de mim. - Respirei fundo olhando em volta para aquela gente toda peguei na mão de Brayce contornando aqueles homens nojentos e levando-a pela rua fora. - Se calhar foi má ideia trazer-te para aqui - lamentei-me - estás bem?

Ignorei o que ela disse fazendo um sorriso.
-A minha vida também é uma desgraça. Estamos quites. Não te preocupes mais, está bem? - Perguntei enquanto a fazia virar-se para mim. - Vamos a minha casa - pedi fazendo uma careta enquanto olhava para o lenço ensopado.