Jardim da Universidade

Fechei os olhos e senti a sua respiração contra a minha cara. Abri-os e deparei-me com os seus grandes olhos castanhos focados nos meus. Engoli em seco e apreciei a beleza do brilho que ali estava. Abri a boca para tentar falar mas não saiu nada. Eu queria tanto aquilo mas tinha medo de o afastar de novo...

Não sei o que me deu, mas afastei-me. A pouca experiência que tinha dizia-me que não devia fazer isto logo na primeira noite em que estavamos juntos. Ainda corrias tudo mal e depois não havia retorno. Dei uma suava gargalahda para quebrar o momento - Acho que vou ter bons sonhos hoje.

Engoli em seco e fechei os olhos quando o vi afastar-se. Disfarcei a frustação rindo-me com ele mas talvez fosse melhor assim...
- Eu também. - sorri carinhosamente e ajeitei-me na cama. - Boa noite. - desejei-lhe, enrolando-me no meu próprio corpo.
Fechei os olhos e tentei adormecer, mais uma vez.

- Boa-noite - Aconcheguei-me na cama e fechei os olhos. No entanto não adormeci. Ainda estava inquieto, se bem que a sensação de estar aqui com ela me deixava mais tranquilo. Permiti-me olhar para ela, apesar da escuridão. Mas o que é que se passa contigo Ash?
Mais ou menos a meio da noite acordei e silenciosamente saí da cama. Não a queria acordar. Peguei num papelinho que encontrei por ali e numa caneta, acendi a luz do telemovel e escrevi:

Espero ver-te amanhã. Beijinhos, Ash

Feito isto abandonei o quarto dela e fui para o meu.

Senti a luz do dia embater-me nos olhos e abri-os. Deparei-me com o lugar do Ash vazio e com apenas um papel no travesseiro.


Peguei no papel e encostei-o a mim. Estava tão diferente desde que o conheci... O quê que ele tinha assim de tão especial para me chamar a atenção como nunca ninguém o fez? Espreguicei-me, peguei no telemóvel e decidi enviar-lhe uma sms.

Quem me visse agora era apenas uma pessoa normal. Sentada num banco com livros ao colo e a olhar distraidamente para uma árvore, mas não era, ou até podia ser, mas não me considerava como tal, nem eu nem os meus pais adoptivos. Também não queria ser, odiava aquelas gajas que se achavam superiores a tudo e a todos, se eu fosse uma pessoa normal seria como elas.
Abri o livro de anatomia para tentar esquecer-me do mês que tinha iniciado e respirei fundo para me concentrar, em vão, ao fim de alguns minutos já estava a pensar no que podia fazer neste mês tão secante. Era um mês em que eu parava totalmente off da minha actividade extra-curricular.
Olhei em volta vendo um grupo de rapazes e revirei olhos, se eles me viessem chatear, com o bom humor que eu estava ainda os matava com um só golpe.

Pelo canto do olho vi um rapaz a sentar-se ao meu lado. Suspirei, só faltava mais esta. Os grupo de rapazes que estavam por perto passaram por nós e olharam para mim e para o gajo com sorrisos matreiros nos rostos e eu revirei os olhos. Encostei-me mais ao banco e continuei calada, mas aquilo irritava-me, existia tantos bancos distribuídos naquele jardim, ele não podia ir ver a paisagem para outro sitio?
-Não existem outros bancos para te sentares? - Perguntei sem pinga da paciência.

-Desculpa? - Perguntei indignada - eu estou aqui à horas, por isso quem tem que sair daqui és tu. - elevei o meu tom de voz olhando-o e tentando manter a postura. Que raiva, respira McKenzie, respira. Hoje o meu bom humor era nulo, se ele me irritasse mais um bocado eu ainda armava aqui um escândalo. Que lata!

-É publico e é grande, podes ir para outro sítio, eu quero ficar sozinha - Disse-lhe batendo devagar com a mão no banco. Vi-o a olhar para mim com aquele olhar de que se pudesse eu já estava no papo. Cerrei os punhos e calei-me, voltei a endireitar-me no banco e respirei fundo tentando controlar-me.

Virei a cabeça para ele e olhei-o pronta para lhe dar uma chapada, visto que era o máximo que eu podia fazer.
-Nem sabes o quanto - ironizei revirando os olhos. - Agora tira os olhos de cima de mim. Já te estou a avisar!

- Vais estar quietinha com as mãos porque dar-me uma chapada não te vai adiantar de nada. Gosto quando o fazem, significa que são boas na cama mas se o quiseres demonstrar fá-lo! - Ofereci a outra face e ri. - És demasiado boa para tirar os olhos. - Acrescentei com ar tarado.

Fiquei a olhar para ele com o que ele me tinha dito. Só consegui reagir para fechar um punho e lhe dar um murro no nariz fazendo-o sangrar.
-Lamento, olha - peguei no queixo dele e fiz com que ele olhasse para uma árvore - tão perfeita e verde. É mais agradável. - Revirei os olhos e voltei a pôr os olhos nos livros que estava a tentar a ler.

Bati com os meus saltos no seu peito enquanto ele me agarrava.
-Larga-me estúpido - gritei sentindo-o a apertar-me bem. - Tu queres uma costela partida? - Perguntei esperneando com mais força- Com um braço consegui subir a sua camisola aproximei a minha boca das suas costas e mordi-as com toda a força que consegui. - Larga-me!

Olhei em volta vendo ainda tudo vazio e fiz uma careta sentando-me num banco agarrando na minha mala e colocando-a ao meu lado enquanto esperava que fossem horas.

Como fui demasiado cedo para a universidade, decidi ir dar uma volta pelo jardim. Sorri quando vi o Kit e sentei-me ao lado dele - Muito madrugador.

Quando vi Serena sorri afastando as minhas coisas para ela se sentar.
-Eu tive um sonho. - encolhi os ombros.

Coloquei as minhas coisas mesmo ao meu lado e olhei para ele - Queres falar sobre isso? - toquei-lhe ao de leve na perna e sorri ligeiramente.

Olhei para a mão dela na minha perna e subi até à sua cabeça.
-Sim, pode ser - disse enquanto assentia.

Virei-me de lado para ele e fiquei a olhar para ele.
- Conta o sonho, então.

Olhei de novo para a mão dela na minha perna e engoli em seco para não rir ou sorrir.
-Tu estavas nua.