Sala de Estar

-Temos de estar - suspirei e agarrei na barriga - Quero pegar nela, é que...está tão quase percebes?-perguntei abrindo-me com ele, porque alem de namorado ele era o meu melhor amigo. -Mas...estou com medo.-confessei á medida que falava rapidamente a uma velocidade veloz pois nao estava nada calma.

-Agora? Sete em Sete minutos.- disse olhando para o relógio vendo que faltavam seis minutos para a próxima contracção que me estava a dar cabo do juizo. -Para aí!- pedi olhando para ele com um sorriso gozão.- Tenho cinco minutos volto já. - Saí do carro indo buscar dois cafés grandes ao Starbucks em 4 minutos, sentei-me no carro e estendi-lhe a bebida com alguns bolos que tinha trazido também - Oh que foi? Vamos ter fome! - disse rindo-me. Senti outra dor forte e dobrei-me agarrando na barriga. - Anda.

-Não gosto que fales assim comigo - disse-lhe olhando para a rua e abraçando as minhas pernas. A viagem foi curta e dolorosa, por vezes comia os doces que tinha trazido por acalmava-me. Deitei-me para trás e mal chegamos á urgência da maternidade mandaram-me entrar, olhei para Tom aflita mas não o deixaram entrar logo.

Gritei com toda a minha força, as minhas pernas badalejavam… Apertei o anel que me dera e fechei os olhos com pujança deixando-me levar pela tristeza que emanava em mim, limpei as lágrimas espessas de melancolia que acarretavam consigo neste longo caminho sem fim que se chamava vida e que nunca mais acabava.
Olhei para o céu e suspirei – Porquê Tom? Porque Marie? – sentei-me novamente no chão e soltei outro grito, se não fosse Hanna estava pronta para fazer os disparates piores do mundo. Sem Tom a meu lado, mas que lá no fundo estaria sempre presente, a minha vida iria ser desgostosa. Ele era o homem da minha vida, era quem me dava mais forças mas agora tinha de me agarrar ao fruto do nosso amor.
Entre o meu choro e o de Hanna que tinha acabado de acordar um silencio estranho reinava e a melancolia permanecia dentro de nós! –Papá!Papá! – ela levantou-se do berço e esticou os braços para fora pedindo colo. Peguei nela , mas antes limpei todas as lágrimas. – Mamã triste, papa anjo contente ‘’nhé’’? – assenti e pousei-a no sofá indo á cozinha buscar um iogurte e umas bolachas para a pequena.Mal cheguei ela estava a fazer gestos como o Tom, aquela maneira de pegar nas coisas, a maneira como sorria. Mais lágrimas escorreram pela minha face. O funeral tinha sido hoje e eu não estava em condições de continuar, tinha de arranjar outra maneira de explicar a Hanna pois ela pensa que os anjos andam na Terra visto que diz que o pai está ali.
Esmigalhei as bolachas para dentro do iogurte e dei-lho juntamente com a sua colher de borracha. –Como tudo… - engoli seco e sentei-me ao lado dela baixando com o pé uma das nossas fotografias.

Tinha sido hoje o funeral. O funeral da Marie e do Tom.
Depois de chegar a casa completamente passado e com uma dor enorme no peito, fui até ao armário das bebidas e acabei com uma garrafa em tempo record. Não alterou nada. A dor que eu sentia mantinha-se inalterada.
-Merda! - gritei tentando conter as lágrimas que acabaram por escorregar pela minha bochecha.
Fui até ao móvel onde estavam as nossas fotografias juntos e de todo o grupo e passei o braço por elas, derrubando-as todas no chão.
Tinha de sair daquela casa cheia de recordações.
Fechei a porta com bastante brutidão e fui caminhando até à casa dela.
Assim que cheguei à porta, respirei fundo. A Mia estava ainda pior. Tinha-a visto no funeral, pelo menos a Hanna ainda tão pequenina parecia 'perceber' a situação.
Aproxei o nó da gravata uma vez que ainda estava com o smoking que tinha usado no funeral, e bati à porta.

Levantei-me no sofá devagar e abri a porta encarando o Lucas, mal o vi puxei-o para mim abraçando-o. - Lucas! - deixei-me estar nos
seus braços e puxei-o para dentro. - como estás? - murmura com as lágrimas nos olhos.

Apertei-a contra mim e senti a camisa molhada.
Engoli em seco antes de responder.
-Tenho de estar não é? - ia perguntar se ela precisava que eu fizesse alguma coisa, se precisava de companhia quando fui interrompido.
-Tio Lucas! - disse a Hanna feliz. Sorri-lhe e fui até ela.

A Hanna gatinhou até ao Lucas agarrando-o pelas calças. - Tu também estar ''tiste?'' - os olhos da pequena fitavam a cara de Lucas deixando-a com uma cara preocupada. Sentei-me no sofá e olhei para Lucas, tinha tantas saudades de Tom, e tudo nesta casa me fazia lembrar ele...o cheiro, as fotografias, a Hanna. Cada coisa nesta coisa tinha sido Tom a colocar lá e simplesmente não conseguia voltar para a minha casa visto que ainda tinha mais recordações. Dei por mim a olhar para o chão e, não sei se foi pura imaginação, mas senti novamente o cheiro dele.

Peguei na Hanna ao colo e elevei-a no ar.
- Só um bocadinho. - sorri-lhe.
Ela olhou para a Mia e depois falou mais baixinho ao meu ouvido.
- A mamã também tá tiste...
Pousei-a no meu colo e comecei a fazer-lhe cócegas. As risadas dela eram contagiantes.
-Então temos de ir fazer cócegas à mamã.

-Tenho shonho! - peguei nela ao colo e sorri tristemente ao Lucas pedindo-lhe para esperar. Levantei-me e fui até ao quarto dela pousando-a no berço. Fui-me embora o mais rapidamente possível pois se continuasse aqui ela não ia adormecer.
-Cheguei -murmurei sentando de seguida no sofá. Olhei para ele e abracei-o , sem dizer nada apenas a desfrutar da companhia um do outro.

Sorri à Hanna e dei-lhe um beijo na testa antes dela ir dormir.
Enquanto espera pela Mia que tinha ido deitar a pequenina, fui sentar-me no sofá. Fiquei a olhar à volta. Não era só a minha casa que trazia recordações, parecia que todos os sitios para onde olhava me fazia lembrar deles.
Abracei a Mia.
- Como está a Hanna? - perguntar como ela estava era uma pergunta estúpida.

-Por enquanto está bem...- olhei para ele novamente. - Quero sair daqui.- murmurei contra o seu peito e suspirei e inspirei o seu perfume, a minha mão acariciou a sua face e os meus lábios beijaram a sua testa.

Olhei para a parede à minha frente.
-Eu percebo... estou farto de estar num sitio com tantas recordações dela...
Fiz-lhe festas nas costas.
- Queres que passe a noite cá? - perguntei - Estou farto da minha casa e a Jess está com o Ed e o Dean a tentar passar por isto também... não te queria deixar aqui sozinha com a Hanna.

-Sim, a Hanna vai para os meus pais esta semana. - ela baixa o olhar - vêm buscá-la daqui a um bocadinho. - murmura e abraça-o durante muito tempo porque precisa de senti-lo mais de perto. -Como é que a Jess está? - ela suspira e encara-o olhando-o nos olhos.

-É melhor... assim pelo menos está um bocadinho afastada disto...
Mantive o abraço enquanto a olhava nos olhos.
-Está mal. Vocês são amigos desde miúdos. Eram os melhores amigos dela... Está tão mal como nós...

-Eu nunca vou encontrar ninguém que preencha este espaço -murmurei encostando-me ainda mais ao seu peito

Fiz-lhe festas no cabelo - Vais sim, vamos todos. Mas nunca os vamos esquecer. - fiz com que ela olhasse para mim -Tens de ser forte pela Hanna.

-Oh anda cá Lucas... - murmurei e puxei-o para mim. Suspirei. - Temos que ir ter com a tua irmã...tenho que ir ver a pequenina.- sorri tristemente para ele.