Sala de Estar

Entrei pela sala com os sacos com enfeites na mão e bloqueei quando percebi que interrompera uns pombinhos.
-Desculpem, nós vinhamos montar a árvore de Natal... - estava pronta para sair quando olhei bem para a cara da rapariga. Olhei mais uns segundos até perceber quem era... era aquele casalinho que me tinha interrompido em momentos íntimos há uns meses. - Mas como vocês também já nos conhecem, e que tal ajudarem-nos? - propus, colocando de seguida a mão na boca para não me rir. Decidi não olhar para Axl, a reacção dele ainda devia estar a ser pior que a minha e assim não me controlava mesmo.

Quando estava prestes a responder, a sua proximidade afectou-me a linha do raciocínio. De seguida, senti os seus lábios em contacto com os meus e deixei de saber o que estava a fazer. Aproximei-me ainda mais, empurrando-o contra mim e a retribuir o beijo de forma cada vez mais intensa.
Virei-me de repente, quando ouvi uma gaja e separei-me do Dylan, reconstituindo mentalmente a imagem que eles estavam a ver: uma gaja a ser comida, sentada em cima de uma mesa.
- Olha isto foi vingança da outra vez, é isso? - perguntei totalmente furiosa, quando os reconheci finalmente. Levantei-me da mesa, sem me reconhecer bem e fitei a rapariga, tirando-lhe mais ou menos as medidas.

-Mas como vocês também já nos conhecem, e que tal ajudarem-nos?.Rodeei a cintura da Summer com os meus braços e puxei-a deixando que o meu corpo embatesse no dela. -Claro! Era mesmo o que eu ia fazer.- sorri de forma sarcástica enquanto murmurava contra o ombro de Summer.
Suspirei, há tempo demais que a queria ter nos meus braços e quando finalmente consegui algo faz com que nada aconteça. -Sim mas ao contrario de vocês nós fomos embora, nao ficamos a fazer de emplastros. - sacudi os ombros e mandei-me para o sofá de costas enquanto passava com os dedos no cabelo.

Ergui as sobrancelhas olhando para a palhaçada toda. Graças a... mim que eu não estava todo lixado, caso contrário estavam todos lixados. E hoje até que estava de bom humor por isso apenas meti-me ao lado de Amanda e olhei-os.
-Sim, mas agora temos aqui crianças por isso se quiserem ficam, se não quiserem saiem - disse para o gajo e apontei para Melanie no sofá ao lado da árvore de natal e para Mary ao lado dela. Meti-me no meio de Amanda e da outra gaja e afastei-a com os dedos antes que começassem às chapadas. - Ah! - disse virando para o gajo novamente - emplastros nós não somos, se querem fazer alguma coisa existe uma quantidade de quartos por aqui. - sorri ironicamente.

A minha vontade de rir passou quando a rapariga de cabelos morenos me respondeu. Estava fula, sem dúvida. E também me tinha posto nesse estado. Se Axl não se tivesse colocado no meio, estava pronta para andar à luta com ela
-E uma pessoa ainda é simpática em convidar-vos! A sério? Ou vão ou ficam! - irritei-me. Estava habituada a um Natal em... família...(?), melhor, sempre tinha desejado um Natal em família perfeito, com perú ao jantar, bacalhau ao almoço, toda a gente a montar a árvore, debaixo dela imensas prendas... Acorda para a vida, Amanda! Durante os segundos que perdera a pensar naquilo tudo, nem tinha percebido se alguém me respondera.

Quando o gajo me tocou, fitei-o furiosa porque não estava muito bem apoiada e quase me tinha desequilibrado.
- Voltas a tocar-me com um dedo e tu vês. - barafustei e depois virei-me, novamente, para a gaja - Olha é assim eu fico cá até quando eu quiser e onde quiser. Isto é, se me apetecer sentar em todos os lugares onde tu ias montar a tua árvore de natal perfeitinha e nada artificial, eu faço isso. E fala-me direito. - disse totalmente furiosa. Quem é que a gaja se achava para mandar boquinhas?, quando apostava que tinha feito de propósito - Sim, foste de uma simpatia extrema, queres que te agradeça já agora? - ironizei. Era mais alta que eu, mas chegava bem apra ela.

A raiva que ela tinha dentro dela fervelhava e isso fazia-me sentir quase bem. Fiz força para não me rir, mas isso foi algo falhado porque desatei a fazê-lo.
-Porquê? Queres que te toque com a mão toda? - Provoquei-a olhando para o gajo que devia estar também a fervelhar. - Vá, vamos lá parar com isto. Nós vamos fazer a árvore com as miúdas, agora vocês ou desandam e vão para o quarto pinar, ou ficam aqui a olhar para nós. -M&M's pegou na minha mão meia assustada.

Coloquei as mãos na cintura e empurrei Axl, de forma a ficar de frente em frente à rapariga novamente.
-Sim, quero que digas obrigada! - pedi - Se quiseres ficar a namorar fica, agora não me venhas dizer que somos uns emplastros quaisquer! - dei a mão a Melanie, que se encostou a mim a chorar, nervosa. Sentia-a a tremer nas minhas pernas, o que me deu pena. Já me estragaram o espírito Natalício... pensei para mim própria, tentando afastar novamente o pensamento do Natal perfeito.

Sinceramente, não sei o que me irritou mais: se o gajo irritante que devia andar com falta e por isso se comportava como um deficiente, se a gaja com as mãos na cintura à histérica e a sua simpatia, que me pareceu ser falsa.
- Lá por estares ansioso de o fazer, não significa que eu deixe. Agora vê lá se controlas a 'vamos ser todos felizes' com as plantinhas que pareces usar, antes que seja preciso dar-lhe um estalo. - disse baixinho, mas com a voz mais cheia da raiva. Esperava que ela percebesse a ironia - Sim, eu posso dizer obrigada, mas é mais por 'obrigada por não ser como tu'.
Sum, acalma-te.

Enquanto a gaja falava irritada para mim fui até uma prateleira onde estava bombons e peguei num pacote de M&M's para Mary. Ela tirou-me o pacote e foi-se sentar mais calma. Voltei a fitar a gaja com um sorriso cínico. A sério, para que é que era tanta coisa por causa de uma árvore de Natal? Estas gajas com as hormonas a saltarem dentro delas parecem unicórnios a verem arco-iris! Começam logo a relinchar.
-Não é preciso que tu deixes e quanto às minhas plantinhas...- fiz uma pausa suspirando dramaticamente - elas não são para meninas nem como ela nem como tu. Agora ó raivosa, acalma os unicórnios que respira fundo, ou ainda tens um ataque qualquer. Eu não me responsabilizo. - sorri começando a tirar a árvore da caixa calmamente.

-Sinceramente, façam lá a arvorzinha com as crianças! - disse enquanto cerrava os punhos, tentando-me acalmar. Revirei os olhos - Olha lá vê mas é a quem é que chamas unicórnio que ela não é como... - fiz um barulho com a garganta e levantei o sobrolho. -E vamos-nos acalmar estão aqui crianças que embora não as conheça temos que ter respeito por elas.- olhei para uma delas e voltei a colocar as mãos na cintura da Summer puxando-a mais para mim - Acalma-te pequena. - murmurei junto da sua orelha , para unicamente ela ouvir.
Aquelas duas pequenas faziam-me lembrar as minhas irmãs... uma delas sorriu para mim pois fintava-a , esbocei um sorriso discreto a pequena e cocei a cabeça. Eu, Dylan...a levar-me pelos encantos de uma criança. Esta Summer deu-me cabo do sistema.

Respirei fundo e ignorei tudo o que eles diziam antes que tivesse um ataque de pânico e ainda matasse alguém. Fui até ao sofá, puxando Melanie pelo braço, e arrastei os móveis de modo a haver espaço para a árvore de Natal. Pedi-lhe que me entregasse as decorações e coloquei-as na mesa de jantar. Agora, estava tudo pronto para começar.
-Hora de decidirem se querem ajudar ou não! - disse num tom médio, fazendo um grande esforço para não refilar com ninguém. Agora que podia ter finalmente o Natal perfeito, aquele casalinho tinha de decidir resmungar por um simples convite para montar a árvore de Natal, que supostamente era algo muito acolhedor e que aproximava toda a gente, até aqueles que se odeiam.

-Diz, podes acabar o que ias dizer, porque e mentira, primeiro porque - fiz uma careta e parei- mas quem és tu para te dar justificações? - Perguntei mais para mim do que para ele e virei costas colocando a árvore no sítio onde Amanda tinha afastado os móveis. Não conseguia acreditar que estava em abstinência à praticamente dois meses. Sempre que tentava mais alguma coisa eu e ela discutiamos. Respirei fundo para afastar os pensamentos que tinha na minha cabeça e olhei para Amanda. - Está visto que não querem, esquece lá o casalinho e concentra-te. - pedi-lhe.

O rapaz estava a fazer-me ficar totalmente nervosa e não, eu não queria esmo ficar doida.
Levantei-me da sala, desencostando-me do Dylan sem conseugir ouvir ninguém pelos nervos. Ele tinha-me sorrido mas nem tinha conseguido retribuir dos nevos todos. Dirigi-me para o meu quarto onde vesti um casaco e depois voltei à entrada, preparando-me para sair e apanhar ar fresco.
- Vnes? - acabei por perguntar ao Dylan.

-Vou - respondi fitando-a e fui até á porta ter com ela. Puxei-a mais para mim - têm calma pequena.- olhei para ela e encostei-a á ombreira da porta - temos de falar, sabes disso não sabes?- murmurei junto da sua orelha após lhe dar um beijo na testa.

Acalmei-me quando eles finalmente se foram embora, embora tivesse ficado um pouco desiludida por não querem montar a árvore de Natal connosco: afinal o Natal era ou não uma época de amor e amizade? enfim.
-Certo, concentrar-me. - repeti, baixinho - Vamos montar a nossa árvore. - acenei, respirando fundo e sorrindo finalmente. Abri as caixas com os enfeites e esperei que Axl montasse o pinheiro.

Montei a árvore de Natal e Melanie olhou para mim. Sentei-me no chão olhando para os efeitos e assendi a lareira esticando-me. Depois de tanto ter olhado, Melanie gatinhou até mim colocando-se no meu colo, como se fosse um gato. Sorri-lhe. Acho que ela gostava de mim, talvez a única que o fazia.
-Querem ajuda? - Perguntei a Amanda e a M&M's, a minha irmã já estava pronta para despejar bolas e lacinhos em todos os lados.

Vesti o casaco de cabedal preto e pus um gorro também preto na cabeça.
Senti Dylan aproximar-se de mim e fitei-o, quando ele me disse para estar calma. Eu era impulsiva e tinha-me contido muito para não dar na gaja, que me tinha irritado sabia lá porquê. Sempre fora um bocado para o violenta e enfurecia-me facilmente, muitas vezes com coisas insignificantes. E aquela rapariga com aquela simpatia enjoativa dela, tinha-me irritado mesmo: que não voltasse a interromper-me.
- Sim. - respondi apenas, com a voz muito controlada - Podes começar a falar, porque agora estou nervosa e não sei expressar-me. Eu respondo. - proferi e abri a porta, saindo para a rua, sem destino certo.

Comecei a abrir os ramos, para que os enfeites se colocassem. Nunca tinha feito aquilo em 'família' e sentia-me... não sei, feliz...
-Sim. - assenti, pegando numa bola e colocando-a na árvore. Depois noutra, depois noutra e noutra, e assim adiante. Quando acabaram as bolas, comecei a pôr os laços e as estrelas, e as luzes e tudo. Tudo com a ajuda deles. A única coisa que eu queria que também acontecesse era ser uma criança. Isso ia fazer uma grande diferença.

Sentei-me no sofá a olhar para a árvore de natal já com as luzes a piscar e sorri. Não sei porque o fiz, mas fi-lo. Tinha que admitir, aquilo dava um certo brilho e encanto à casa. Olhei para as minhas irmãs todas contentes e levantantei-me colocando música, M&M's gritou e começou a dançar feita parvinha. Ri-me e abanei a cabeça.
-Depois eu é que sou o parvo - respondi-lhe colocando-a no sofá e fazendo-lhe cócegas, quando achei que já era o suficiente parei e olhei para Amanda que estava tão ou mais contente que as minhas irmãs. - Celebravas o natal? Com os teus tios? - Perguntei.

Coloquei-me ao lado dele e tentei controlar-me, para não parecer uma histérica. Mas há uns tempos que não me sentia assim. Era Natal, e pronto.
-Não. - acabei por responder, ao fim de uns segundos - Os meus tios odiavam-me e arranjavam sempre algum motivo para me pôr de castigo e eu não celebrar o Natal. - expliquei - Só celebrei uma vez, com os meus avós. Eles morreram os dois num acidente, umas semanas mais tarde. - admiti, sem retirar os olhos da árvore de Natal que fazia como toda a sala tivesse um certo ritmo de brilho.

Respirei fundo abanando as sobrancelhas. Agora percebia o porque de ela querer ansiosamente um natal feliz.
-Vou fumar - anunciei levantando-me e passando pelo quarto onde já tinha os meus cigarros feitos. Desci as escadas e voltei a passar por Amanda. - Vamos jantar em casa? - perguntei antes de acender o cigarro por causa das minhas irmãs.

Apontei com o queixo para a porta, onde seria um local melhor para fumar. Depois disso apontei para o cigarro, de maneira a pedir um. Convenci as raparigas a ficarem dentro de casa e segui com Axl para fora.
-Não sei, onde quiseres. - respondi-lhe, enquanto tudo aquilo acontecia. Coloquei umas luvas e passei uma mão pela outra, tentando aquecer-me. Estava um frio de rachar ali.

-Podes estar descansada que eu já vinha para a rua - resmunguei e afastei o meu cigarro dela. Passei-lhe um normal acendendo-o. - Tu és perigosa com erva, mais vale prevenir. - gozei e acendi o meu. - Vamos às compras com as miudas agora. A Mary já me estiveram a pedir roupa. - pedi, - aproveitamos e comemos na rua. - Mesmo antes de ela me responder fui chamar as minhas irmãs a casa e M&M's pegou em Melanie e passou-me para o colo. Passei o cigarro para a outra mão e seguirei-a. Fazendo com que a sua cara ficasse virada para mim continuei a fumar e apontei para a minha garagem.
-Onde vamos? - Perguntou Mary
-Comprar roupa. - Anunciei e ela saltou de alegria. Olhei para Amanda.
-Vamos.

Segui-o até à sala e continuei a insistir.
-Axl por amor de deus não sejas parvo! Faz alguma coisa! Por favor! - implorei, enquanto ele estava sentado no sofá e eu de pé atrás dele - E já te esqueceste que é provável os teus irmãos e irmãs também terem?! - interroguei, lembrando-o que não era só ele que estava a dramatizar aquela cena. Aquilo era bem real e não era só ele que estava em risco - Se não o fizeres por mim nem por ti faz por eles! - pedi, nuns berros que eram capazes de se ouvir dois andares a cima.