A Cozinha

-Sim, eu vou falar com eles - voltei a repetir - É que eu é que sou o drogado mas eles é que te tratam mal. - resmunguei - Desculpa mas isto não pode ser assim.

Abanei a cabeça e soltei uma gargalhada, como se aquilo fosse uma grande piada.
-Ahahahahah, tens muita graça Axl! - gozei, apesar de não ter graça só queria passar aquele momento - Ires falar com os meus tios... - repeti - Muita graça!..

Olhei para ela levantando uma sobrancelha quando ela se começou a rir feita parvinha.
-Eu não estou a gozar Amanda. Não estou mesmo. - disse olhando-a nos olhos.

Fiquei séria novamente e puxei-o pela blusa, dando-lhe um beijo.
-Agradeço-te imenso, mas não vais fazer isso. - disse calmamente.

Abanei a cabeça.
-Não vamos discutir isto, não quero que fiques amuada comigo, mas eu vou mesmo faze-lo. Nem que fale primeiro com a Jenny ou lá como a gaja se chama - revirei os olhos não me lembrando do nome da prima dela.

Tentei respirar fundo para não me passar, o que eventualmente acabou por acontecer.
-Não tu não vais! - gritei, levantando-me - E se fores... e se fores... - procurei uma ameaça boa. ele ia fazer a maior asneira da sua vida (o que iria ser complicado, mas pronto) ao ir falar com os meus tios, e eu acabei por fazer a pior ameaça que alguma vez poderia ter feito - ... se fores falar com eles eu nunca mais te quero ver!

Olhei para ela e revirei os olhos com um suspiro.
-Só tu é que ficas a perder.- liguei a televisão - quem está a cometer um erro és tu não sou eu - avisei-a fingindo que prestava atenção ao que estava a ver.

Abanei a cabeça, suspirando de alívio.
-Como queiras. - balbuciei - Eu vou à casa de banho. - dito isto, dirigi-me à casa de banho do 1º andar.

Meti os cotovelos sobre as minhas pernas e quando ela já não me podia ver a sair, saí de casa. Eu não queria saber do aviso dela, havia de me agradecer mais tarde. Fui até á casa antiga dela e bati à porta com força. Quando abriram uma senhora, que devia ser a tia dela até se assustou comigo. Se ela se assustava comigo agora não queria imaginar como é que ela ficava se me visse à uns meses atrás. Entrei no apartamento dizendo quem era e sentei-me no sofá.
-Agora quero saber, porque é que a tratam mal - comecei por algo bem simples, e ela arregalou os olhos dizendo que não tratava mal ninguém. Apertei com ela e disse que isso não era verdade, ao fim de algum tempo ela lá disse que não a tratava mal, apenas a desprezava porque não era filha dela e porque lhe fazia lembrar demasiado a irmã. Avisei-a e ameacei-a a ela e ao marido e ainda à filha que a tratava a baixo de cão, disse que se não a queriam afastar era melhor que falassem com ela, mas que se nem a quisessem ver a frente ao menos não lhe falavam mal e nem a desprezavam. Nem sei bem o que é que eles escolheram mas ela deve ter ficado tão tocada que devia ligar-me. Eram dez horas da noite quando cheguei a casa.
-Nem comeces. - avisei assim que a vi.

Quando saí da casa de banho de volta à sala, procurei Axl que desaparecera sem deixar rasto. Investiguei toda a casa, visto que ele não podia desaparecer assim sem mais nem menos. De repente, houve algo que me saltou à cabeça.
-Oh não, ele não o fez... - murmurei entre dentes e naquele segundo o que me apetecia fazer era atirar todos os móveis ao chão. Agarrei no telemóvel com tanta pressa e pressão que enquanto aquilo ligava deitei ao chão com toda a força irritada, partindo-o aos pedaços. Atirei-me ao sofá e passei de canal em canal stressada até que desliguei e deitei-me no sofá. No entanto o nervoso miúdinho não me deixou ficar quieta e eu não queria ir a casa naquele momento, por isso fui até à cozinha e passei o tempo todo a cozinhar todo o tipo de bolos e confeitaria que possam imaginar . Quando ouvi o barulho de um carro a estacionar dirigi-me à entrada, batendo com o pé no chão e esperei que ele entrasse.
-Nem começo? Nem começo?! - perguntei-lhe retóricamente - Eu disse-te estreita e claramente para não ires lá!

Abanei a cabeça encolhendo os ombros.
-Eu gosto de quebrar regras - revirei os olhos - Amanda, porque é que tens tanto medo? - perguntei aproximando-lhe e agarrando-lhe nas mãos, com força o suficiente para que ela olhasse para mim e não escapasse.

Fiz um esforço enorme para sair dali naquele momento sem começar a chorar , porque é que ele tinha de ter feito aquilo?
-Porque eles são ... são os meus tios - desculpei-me sem o olhar, continuando a fazer pressão - E não é medo, eu disse-te para não ires!

Agarrei-a pela cintura contra mim e fiz com que olhasse nos olhos. Destava que não o fizessem.
-Exactamente, então porque é que eu não podia ir falar com eles? Tens medo do que eles possam fazer agora? Eles fazem-te mal é o minimo que eu posso fazer.

Ele estava com uma razão e um argumento tão bom, mas eu não me ia deixar vencer.
-larga-me. - pedi calmamente.

Abanei a cabeça tirando-lhe o cabelo da cara.
-Não Amanda, fala comigo primeiro antes de te chateares e gritares tudo. - pedi olhando-a.

Abanei a cabeça, forçando me para olhar para outra direcção.
-Tu disseste-me que não ias... - murmurei antes de continuar - eu tinha medo... - admiti baixinho quase a chorar.

Baixei a cabeça tocando com a minha testa no seu ombro.
-Não tenhas medo, a tua tia sim, tem que ter porque não fui nada agradável. - beijei-lhe o pescoço. - Eles não te podem fazer nada.

Afastei o meu corpo do dele, rapidamente.
-O que é que tu lhe disseste? - perguntei num tom irritado, pois ainda estava bem bem chateada.

Dis[b]se-lhe que ela não tinha o direito e que não te devia tratar assim.[/b] - aproximei-me eu - e disse para ela mudar de comportamento e que se ela não o fizesse eu aparecia lá mais vezes.

Estava a fazer um esforço realmente grande para não lhe dar uma chapada.
-ARRGH TU O QUÊ?! - gritei-lhe - axl, eu peço-te para tu nem ires lá e olha o que tu fazes! merda, foda-se! quando é que me vais ouvir?!

-O que é que esperavas que eu lhe fosse dizer? Olá tiazinha da Amanda que a trata muito mal, pode começar a trata-la melhor. Obrigado - revirei os olhos. - Ela não te vai fazer mal, só vai abrir os olhos Amanda. Mas vá dá-me dois estalos à vontade - abri os braços.

Afastei-me dele e agarrei na minha mala em cima da mesa.
-Tu és um estúpido. - irritei-me e coloquei a mala ao meu ombro - E eu agora vou limpar a porcaria que tu fizeste - fui até à porta e abri-a - Adeus! - gritei-lhe por uma última vez e dirigi-me a minha casa, na oxford street.

Evitei um rugido quando ela saiu. Que parva, ia estragar tudo, ia dar parte fraca e eles iam trata-la mal. Que raiva. Desta vez não fui atrás dela, quando ela viesse aqui falar comigo outra vez ela ia perceber.

Fiquei na mesma posição no carro, ignorando-o, e esperei que ele me viesse buscar. Não sei porquê, naquele dia, estava totalmente fora de mim. Nem para pior, nem para melhor, apenas para diferente.

Fiquei durante algum tempo à espera dela enquanto fingia ver televisão, mas como não voltava, fiquei preocupado e fui ver à rua. Encontrei-a no carro e abri a porta olhando para ela. - O que se passa contigo Amanda? - Perguntei tentando falar calmamente come la.