Sotão/Esconderijo da Casa

Bati à porta de minha casa devagarinho, as minhas mãos estavam a tremer e os olhos inchados. A porta abriu-se e quando eu ia a cumprimentar e a pedir desculpas, a minha tia interrompeu-me agarrando-me no braço com tanta força que senti as suas unhas a perfurarem-me a pele e o sangue quase a deixar de circular. Puxou-me para dentro e encostou-me à parede. De dentro, apareceu também o meu tio e a minha prima pouco mais atrás.
-Que raio é que estavas a pensar, chavala?! - perguntou-me o meu tio, cruzando os braços.
-Eu não sabia que ele viria... - desculpei-me fazendo uma carinha inocente, à qual fui respondida com um estalo na cara.
-E quando lhe disseste o que te fazíamos?
-Eu... - procurei também uma desculpa, mas não encontrei, e também fui interrompida por outro estalo. Depois disso, o meu tio puxou-me de novo pelo braço e desceu as escadas para a cave empurrando-me à força para lá. Empurrou-me, deixando-me cair para aquele chão de madeira, onde me deixei ficar um grande bocado até ganhar forças novamente. Quando o fiz, procurei o meu telemóvel nos bolsos para mandar uma mensagem a Axl para me ajudar, mas não o encontrei e só depois é que me lembrei que o tinha partido aos bocados há umas horas. Gemi cheia de dores, ainda deitada no mesmo local para onde o meu tio me tinha atirado, e só esperei que ele me viesse procurar.

Bah, eu tinha-me tornado num fraco, mas isso a culpa era dela. Fiz dindlon na campainha e quando me abriram a porta encostei-me à ombreira da mesma ficando a olhar para o suposto tio dela com um sorriso cínico. - Suponho que estejam a fazer um jantar de família - ironizei - como eu agora também sou da família acho que posso participar. - revirei os olhos e endireitei-me. A prima dela apareceu atrás dela. - Olá - acenei com a mão e fiz uma careta - alguém...

*amanda fofa winda (not) off*

Jenny foi investigar o que se passava quando ouviu a voz de Axl à porta, e quando percebeu que era mesmo isso foi até à porta, murmurando à mãe.
-Deixa, eu trato disto. - a senhora acenou com a cabeça e entrou, sentando-se ao colo do marido, na sala. - O que é que queres, vens salvar a Amanda é? - perguntou cruzando os braços, tentando fazer-se superior, o que na realidade não era.

-Salvar para quê? Pensei que estivessem num grande e amoroso jantar de família - Entrei sem ser convidado e olhei para a prima dela de alto a baixo. Estava mais gorda, mas mesmo assim olhei para ela com o meu melhor olhar e sorriso. - Continuas a ir ao ginásio? - perguntei. É claro que não. Tentei não me desmanchar a rir.

Jenny revirou os olhos, irritada, e mudou de assunto. O seu tempo estava a ficar cada vez menor, pelo que decidira cortar no ginásio para fazer exercicio noutras 'coisas'. Encostou a porta por de trás de si, e aproximou-se mais de Axl.
-Ouve miúdo, fizeste a maior asneira da tua vida quando decidiste parar tudo comigo para ires atrás da gaja. - resmungou - Porque agora ela foi-se embora. E se não voltou a tua casa, bem, fugiu de casa pela centésima vez! Típico dela. - mentiu, sempre dera uma boa actriz - Portanto, podes parar de incomodar a paz e amor da minha casa e ires te embora, por favor?

Olhei para os pais dela e depois para a prima de Amanda, irritado. Encostei-a à parede com um braço a esmagar o seu peito - quem pensas que estás a chamar de miúdo? - Perguntei e quando vi movimentos atrás de mim larguei-a. Não acreditei nela nem um segundo, se bem que a gaja mentia bem. - Dúvido, por acaso não me queres mostrar a casa? - não dei tempo que ela falasse e olhei para a casa indo abrir a primeira porta que me apareceu, era o quarto dela, segundo a placa e estava lá um cheiro insuportável a morto. Observei e fiz uma careta, ali não estava. Dei um pontapé a outra porta e olhei para lá para dentro nada. A prima dela estava a ficar furiosa comigo mas eu apenas sorria para os presentes como se nada se passasse. O meu sorriso desapareceu quando passei por uma parte em que o chão não fazia o mesmo barulho. Olhei para eles e bati no chão. Tirei de lá uma passadeira que tapava a fechadura. Saí de lá e vi o tio dela aproximar-se para me dar um murro. Endireitei-me e escapei por pouco dando-lhe um com tanta força que ele teve que se apoiar pela mulher. Abri lá o alçapão/porta e vi-a. Revirei os olhos. - Vocês até que podiam ter sorte por a polícia não confiar nada em mim, mas acho que não vão ter - fiz um careta ao ouvir as sirenes e tranquei-lhes a porta antes que fugissem.

*amanda back*

Axl apareceu e pouco depois ouvi sirenes a tocar.
-Tens de começar a ser herói noutras circunstancias... - gozei enquanto me levantava com as poucas forças que recuperara e ia ter, a coxear, com ele.

-É um bocado impossível, quando tudo o que fazes é contrariar-me - suspirei vendo-a a coxear e agarrei nela ao colo e levei-a para o quarto dos tios enquanto a polícia entrava. - Deste parte fraca, eles adoram sentir-se superiores... Mas tu sabes disso.

Apesar daquilo tudo até estava bem disposta, o que parecia totalmente impossível.
-Oh, cala-te e vai comprar-me água - resmunguei fazendo beicinho.

Olhei para a Amanda espantado com que ela me estava a pedir e agarrei-a com força.
-Tu não existes, pois não? - Perguntei - Tens a noção do que a tua prima me disse? Eu quase que acreditei - agarrei na sua face beijando-a. - Anda, vou dar-te água.

Soltei umas gargalhadas e encostei melhor a minha cabeça no seu peito, fechando os olhos como se fosse adormecer, enquanto ele me arranjava água.
-Já está? - perguntei impaciente.

-Só mesmo tu para te rires agora. - resmunguei dando-lhe a água para as mãos e indo senta-la no sofá. - Porque é que fizeste isto? Pensavas que ia ficar tudo melhor ao tentares reverter o que eu fiz?

Sentei-me ao colo dele, sem afastar a minha cabeça do seu peito.
-Não sei... - murmurei - Simplesmente achei melhor... - acrescentei numa voz seca e levei o copo de água à boca.

-E agora? Achas melhor? - Perguntei, não num tom muito mau porque não queria chatear-me com ela depois do que aconteceu. - Eu estava com medo. - toquei-lhe no queixo.

Comecei a rir-me estupidamente do que ele tinha dito e coloquei a mão na sua testa, para ver se estava quente.
-Não estás com febre, estranho. - comentei - Deve fazer sol esta tarde.

Olhei para ela enquanto gozava de mim.
-Eu estou a falar a sério Amanda. - avisei-a enquanto olhava para os seus olhos.

Olhei-a como se estivesse bêbada e passei a mão pela cara dele.
-Está bem ok. - acenei como se achasse verdade e virei-me ao contrário, numa espreguiçadela.

Abanei a cabeça com um suspiro. Estava a lixar-se, se era assim eu também estava. Levantei-a e depois levantei-me. - Vamos para casa, a policia trata do resto. - disse levando-a para o meu carro.

Acenei com a cabeça e deitei-me no assento da frente, ao pé dele.
-Despacha-te. - resmunguei uma última vez e desliguei o rádio, sem dizer mais nada o caminho todo.

-Queres que eu te deixe a pé? - Perguntei por ela ter resmungado e acelerei o carro, indo a uma velocidade considerada exagerada, mas a rua estava deserta, já era de noite, muito de noite.

Encolhi os ombros, sem me mexer.
-Achas que eu me importo com isso nesse momento? - questionei inconvenientemente. Aquelas horas tinham me dado loucura, só podia mesmo.

Contive-me para não parar o carro ali mesmo e continuei a acelerar até fazer uma travagem gradual para não ser muito brusca e parando em casa. - Gostaste? Fui rápido - revirei os olhos e saí do carro indo abrir a porta.