Hospital

-Eu uso muito as mãos, quem é que corta crânios sem mãos? - Ri-me fazendo-me de desentendido. - Mas, para tua informação, eu uso as mãos para muita coisa, agora fica ao teu critério pensar nelas - sorri tirando outro café. Aquilo era a minha vida, sem café não era nada.

Tirei-lhe uma bolacha e comia enquanto bebia o café aos poucos.
-Oh minha querida - disse num tom irritante e rindo-me - eu sou sexy, bonito, charmoso só de me veres já não queres uma demonstração?! - piquei-a voltando a sentar-me - É que se não, estamos muito mal da vida. - sorri.

-Já te disse, temos que admitir que ele é um gajo giro - revirei os olhos e ouvi um bip que não era o meu. - Ohoh - disse baixinho - estarem a chamar-te fora da hora não pode ser coisa boa. - mal acabei de dizer isto ouvi o meu também a tocar. - É melhor começar a correr. - comentei arrumando as minhas coisas rápido e indo seguido de Brayce para a rua. As ambulâncias já estava a chegar por isso fomos abrir a portas. Havia traumatismos, hemorragias, mas eu queria outra coisa. Fui abrir as portas da terceira ambulância e disseram-me qualquer coisa que eu não ouvi, apenas consegui olhar para o homem que tinha parte do crânio deformado com lesões gravez também no maxilar. - É meu - sorri.

Tirei os meus olhos dos documentos que tinha à minha frente e olhei para Brayce fazendo uma careta cansada.
-Aquele homem esá cheio de desafios - comentei revirando os olhos e passando-lhe um pacote de bolachas. -É melhor começares a comer antes que as tuas partes mais visiveis esvaziem de cansaço.

-Tanto posso ir como posso ficar - encolhi os ombros - preciso de um dinheiro extra para os meus irmãos. - Ela deitou a cabeça dela no meu ombro e eu fiquei a vê-la. - Vais ficar não é? E agora queres companhia aqui do sexy. Admite lá - provoquei.

-Coisas em mente são coisas que não me falltam - sorri e olhei para o relógio. - São oito horas, não tens que dormir cá, mas se quiseres, podes ir para os dormitórios e eu faço-te companhia - ri-me.

Levantei-me tirando a minha bata.
-Estava a pensar fazer horas extra mas agora - torci o nariz - não me apetece muito. Queres que eu te leve a casa? Pareces mais morta do que o gajo que estive a tratar. - Exagerei e meti-me à frente dela. - Assim aproveito e sei onde é que a minha vizinha mora. - Ri-me e fui colocar a minha bata ao cacifo, assim também como a porcaria da camisa que me irritava até mais não. Vesti uma t-shirt básica e fui ter com ela.

Encolhi os ombros metendo as mãos nos bolsos e virando-me para ela. - só te levo se quiseres, ainda vais fazer queixa à policia que eu te tentei violar - brinquei.

-Ui, temos mulher má - sorri brincando com ela enquanto passávamos a porta do hospital e as enfermeiras se despediam de mim -Se quiseres eu empresto-te o meu cão - ri-me abrindo a porta do meu carro para ela se sentar - o teu carro hoje dorme aqui. - fiz com que ela entrasse e fui-me sentar ao lado dela. - Queres ir para casa ou não? - Perguntei olhando para ela.

Sorri com o que ela disse e endireitei-me no meu banco finjindo pensar.
-Não sei, tenho que pensar, visto que podes saltar para cima de mim e violar-me. - Suspirei olhando para o céu - Tens que me dizer onde é que é a tua casa - sorri - vamos embora - anunciei pondo o carro a andar.

Acordei com o despertador a chatear-me, vesti-me e dirigi-me ao meu posto de trabalho. Passei todo o dia lá, mas para minha admiração foi tal e qual os dias no hospital universitário onde tinha estudado - os meus novos colegas apresentaram-me as pacientes, fiz uns quantos partos, tive uma ou duas consultas com aquelas adolescentes que pensam estar grávidas, almoçei na cantina, bebi dois cafés na sala de convivio... enfim, um tipico dia. Acho que a vida em Londres não é assim tão interessante... pensei, quando acabei o dia. Sentei-me num dos sofás da sala de convivio e tentei ligar à minha irmã, mas ela de novo não respondeu. Desliguei o telemóvel e saí, entrando no meu carro até a algum sítio que se podesse beber - já conhecia a discoteca, era altura de descobrir o bar.

-Olá senhor anjo - revirei os olhos sabendo que ia ouvir bocas destas - pronto para salvar vidas? - Perguntou Morrison.
-Prontissimo - respondi-lhe com um mau humor que o fez subir as sobrancelhas. Entregou-me a ficha de uma paciente dizendo que era o suficiente por hoje visto que era uma paciente muito dificil, segundo ele. Bem, na verdade até nem era, a única coisa que ela tinha era uma enxaqueca todos os santos dias que a deixava maluca e de cama. Os meus colegas mandaram-na fazer exames desnecessários e com o "bom humor" que eu estava hoje é claro que tive que me zangar.
-Não sabem ver o que são enxaquecas? - Perguntei e continuei com o meu discurso visto que era o chefe. Dei uns medidamentos à senhora e fiz-lhe o exame necessário, que eles não fizeram. Confirmou que eram só enxaquecas e mandei-a para casa porque não necessitava de estar numa cama de hospital sempre que tivesse uma enxaqueca.
Quando era altura de sair, ou seja, quando eu já tinha trabalhado doze horas, espreguicei-me a morrer de fome e olhei para o relógio vendo que saía mais tarde uma hora. Okay, engano, trabalhei treze horas, não admirava o meu apetite. Despedi-me do pessoal e entrei no meu carro com destino a casa de Brayce. Finalmente!

Aquele hospital estava cada vez mais seca. As grávidas já não estavam grávidas, e neste período de tempo não sei bem porquê as adolescentes não confundem gravidez com período irregular... Portanto passei simplesmente um dia apenas com uma consulta de uma idosa, para marcar uma cirurgia, e saí, enquanto enviava uma mensagem para a Lilly.

Uns dias depois
Ainda estava dorida, mas tinha sobrevivido. Apesar de tudo, ali estava eu, internada num hospital. Suficientemente boa para ir para casa, na véspera Natalicia. Acordara pela manhã há poucos minutos e uma enfermeira já me tinha avisado que só tinha de esperar pela médica para me dar a autorização de saída, entretanto era só esperar por Axl que vinha com as novidades do tribunal.

Apareci no quarto pela com suspiro.
-E pronto, foi a coisa mais rápida da minha vida com tribunais - abri levemente os braços e fui-me sentar ao pé dela - Não há provas em como fiz propositadamente, e como estás como minha testemunha está tudo bem. - sorri - por enquanto - resolvi acrescentar e olhei para ela. - Estás bem para ir para casa? Quer dizer... Sabes que hoje era o dia em que iamos jantar a casa do Bryan, certo?

Fiquei feliz com tudo o que ele me disse excepto com a última parte em que o meu sorriso se transformou numa cara completamente passada e irritada. Depois de sair do hospital a última coisa que eu queria era ter de ir ver a loirinha. Ainda por cima não estava com disposição para discussões e... era Natal.
-Espera, o quê?!?!?! FUCK - gritei o que me fez ter uma dor intensa na barriga e coloquei a minha mão nela para as aliviar.