Casa de banho

Entrei na casa de banho e encostei a porta, sentando-me na bancada e abrindo a caixa.
Sorri, maquilavelico, ao ver tudo o que se encontrava dentro da caixa.
Retirei o que precisava, despejando, depois, na seringa; fechei a mão num punho e espetei aquilo na veia.

Engoli em seco.
- Deixa-me acabar o que estava a fazer. - resmunguei.

Tirei-lhe as seringas da mão e atirei-as.
-Não. - disse, secamente - O meu pai foi preso por causa disto e tu não vais ser também!

Gargalhei secamente.
- Isso foi ele. Eu sei parar. Eu sei controlar-me!
Voltei a pegar na seringa e atirei-a para dentro da caixa, voltando a fechá-la.
- Tu não sabes nada sobre mim. Não sabes as razões que tenho para o fazer.
Olhei-a.
- Sabes porque gosto de ir àquele orfanato? Porque também sou adotado. - disparei. - Porque passei por situações idênticas a algumas daquelas crianças. - abanei a cabeça. - Apesar de ter sido adotado por uma família com posses e conhecida, nunca ultrapassei alguns traumas que passei no orfanato. Elas quase me violaram!

Sem pensar, aumentei o nível da minha voz.
-E achas que eu tive uma infância perfeita?! Achas que eu estáva sempre rodeada de amiguinhos que me ajudavam?! Achas mesmo?! - questionei - O meu pai foi preso e por pouco a minha mãe não foi também! - confessei - Achas que eu vim para aqui porque tinha dinheiro e me apeteceu?! Tive de vir para aqui para fugir à drogada da minha mãe e porque o meu pai está prestes a sair da prisão! - virei-me de costas - Mas parece que nada interessa. - segui até à cozinha, apesar dos gritos Sophia ainda dormia. Agarrei na garrafa de whisky aberta em cima da mesa e bebi mais um bocado de gargalo, encostando-me à mesa.

Entrei na casa de banho com a Sophia nos meus braços. Dei um pontapé no caixote do lixo para que as seringas não ficassem à vista de modo a não ficar ainda mais irritada. Fiz um sorriso rasgado a Sophia e enchi a banheira com pouca água. Pousei-a na banheira e sorri-lhe. Virei-me de costas para tirar uma toalha e comecei a ouvir uns barulhos na água. Quando me virei a bebé estáva a rir-se de remoinhos que se formavam dentro de água.
-Sophia! - chamei, pegando nela - Como fizeste isso? - perguntei - Steven!

Apareci algum tempo depois de ser chamado.
- Sim?

Sophia ainda fazia brincadeiras na água, causando ondas em várias direcções e sentidos chocando. Abanei-a e afastei-a para a tentar acalmar, mas ela não parava de rir.
-Como é que ela fez isto? - perguntei-lhe

Suspirei.
- Percebes porque vêm tantos papéis sobre ela?
Tirei-lhe Sophia do colo e fiz a pequena olhar-me.
- Pára, pequena. Estás a assustá-la.
A pequena fez beicinho e parou, baixando um pouco a cabeça.

Olhei-o confuso.
-Papéis? - perguntei. Desci as escadas a correr e apanhei os papéis na mesa onde Steven os tinha deixado. Li-os melhor enquanto subia. - Estás a gozar comigo?! - perguntei, sentando-me numa cadeira com as mãos na cabeça.

Quando Sophia voltou a entrar, o banho da pequena já estava dado.
- Linda menina. - brinquei, enrolando Sophia numa toalha.
- Não. É a verdade! Naquele orfanato todos são diferentes.

Fechei os olhos, tentando acalmar-me.
-Porque é que não me disseste isso logo?! - perguntei. Tu adotpá-la-ias na mesma. ouvi a minha consciência. Estragaste o sonho da tua vida...

Ergui o sobrolho.
- Tentei demover-te antes de a adotares. Agora já está!
Movi o pulso.
- O saco com as roupas dela?

Levantei-me e tirei Sophia dos braços dele. Já não há nada a fazer. pensei, piscando os olhos evitando chorar.
-Está na garagem. Vai buscar, estou com ela no meu quarto. - sorri para ela, saindo da casa de banho - Desculpa. A mamã está aqui, está a passar por um mau bocado mas adora-te ok? - parei a meio do corredor, encantada com o sorriso que ela me deu. Quando ouvi Steven a sair da casa de banho, continuei a andar para que ele não percebesse.

Entrei na casa de banho e apoiei-me nos braços, olhando-me no espelho. Na minha cara era visivel o sofrimento: o eyeliner preta espalhado pela cara em duas linhas irregulares, algumas lágrimas ainda visíveis que contrastavam com a luz em cima do espelho, os meus cabelos molhados... Respirei fundo e tentei acalmar-me, ligando a água quente e despindo o resto da roupa que tinha no corpo.

Coloquei-a dentro do chuveiro e liguei a água quente.
- Vá, vê se tomas banho antes que fiques doente, trago-te já a roupa.
Virei costas, pegando no elástico de borracha que estava em cima do lavatório e guardando-o no bolso; saí daquela divisão e fui até ao seu quarto, pegando em roupa para Sophie. Pousei a roupa no lavatório sem olhar para ela e fui ver se Sophia já estava acordada.

Ok, sim que a minha atitude era de gente idiota e parecia que estava em depressão. Mas como queriam que eu me sentisse? Eu estava ali, sem qualquer objectivo na vida... ou melhor eu não tinha vida. Eu não tinha vida. Todos os meus sonhos tinham sido arruinados no momento em que a polícia bateu à porta da minha casa. E pronto. Depois todo o pesadelo acabou. A morte era mais simples. Acabava tudo, simplesmente. Mas graças à bebida, eu tinha posto um risco em cima da opção de suicidio, visto que tinha adoptado uma criança que não podia simplesmente 'desadoptar'. E eu não era nenhuma suicida. Se o fosse, já o tinha feito há muito, mas é que mesmo muito, mais tempo. Tomei o meu banho e vesti a roupa que ele lá tinha colocado, saindo da casa de banho. Sem avisar ninguém vesti um casaco, desci as escadas e entrei num dos carros, saindo e lixando-me para os inúmeros paparazzi que me viam e perguntavam porque eu saira sózinha, com lágrimas nos olhos, e a tossir.