Maternidade

Encolhi os ombros.
- Mas vão ser azuis. Podes ter a certeza! A menos que tenha genes dos meus pais, que têm olhos castanhos...

Ri-me.
- Tudo bem, não tenho nada contra olhos azuis como já deves ter reparado...-gargalhei piscando o olho.

Ri-me.
- Sim, eu sei.
Olhei o relógio e coloquei Marie nos meus braços, coloquei-a no berço, cobrindo-a.

Entrei la para dentro e fui recebida por muitas enfermeiras que me acolheram de forma simpática, sinceramente não estava preparada para tal...mas tinha que ser.
-Querida, ouve-me com atenção. A tua bebé já deu a volta, mas...tens de ter muita calma. -respirou fundo e prossegui - Não te vamos poder dar a epidoral nem nada do género, ela está muito agitada ...o que é normal na ultima semana. Vais ter de ser forte, veste isto - deu-me para as mãos uma bata branca sorrindo-me. - E daqui a um bocadinho viemos cá.Alguma pergunta?
-Sim...o Tom?-voltou a sorrir e abandonou a sala, resmunguei e comecei-me a vestir. Deitei-me na cama começando a chorar de dores. Tentei ser forte quando Tom estava presente mas já que não estava lá ninguém podia ser eu mesmo.

Puxei-o para mim beijando-o.- Sim é o que vale. -olhei-o nos olhos e suspirei tentando não gritar de dores. - Vamos falar, preciso de me distrair.-pedinchei olhando para o tecto.

Passei a minha mão pela sua cara e puxei-o mais para mim beijando-o. - Não preciso disso, já te tenho aqui.- sorri para ele enquanto suspirava. Fechei os olhos por momentos pensando na minha mãe por momentos, tive com ela em todos os partos...ela sorria para mim e dizia que ia passar. Já compreendo o sofrimento dela, a sua angustia, os seus gritos, a força que fazia nos lençóis e na minha mão para que os bebés saíssem.
Abri os olhos de forma vagarosa vendo-o ali comigo ainda, subitamente lembrei-me do dia da fonte e comecei-me a rir descontroladamente enquanto apertava a barriga com dores, entrou a enfermeira simpática e sorriu para mim. -Em quarenta anos neste hospital és a primeira grávida que se ri. - brincou ela comigo fazendo-me sorrir.

-Amo-te - disse-lhe mexendo os lábios. Deitei-me na cama suspirando e senti a mão de Tom a conectar-se com a minha transmitindo-me calma. Enquanto o olhava nos olhos tentando desvendar o seu pensamento sentia as mãos da senhora nas minhas pernas. Ela afastou-as suavemente e passado uns segundos olhou para mim sorrindo. - Sete centímetros, faltam apenas 3... são os que podem durar mais. - ela suspirou e pegou no meu braço. - Estás bem, por isso não vai ser ainda preciso o soro, se te sentires mal tocas nesse botão ao teu lado que eu venho aqui ter. Já agora sou a Maurice e sou a tua enfermeira de serviço.-sorri para ela e vi-a a abandonar a sala.
Olhei para o Tom e coloquei as pernas para baixo virando-me para o lado.

Sorri para ele e olhei para a minha barriga. - Eu quero tanto saber como e que ela é , amo... - apertei a barriga com força e encolhi-me guinchando de dores. Olhei para o relógio, tinham passado três minutos desde a ultima. Suspirei tentando manter a calma. Sentei-me na cama mal a contracção parou e olhei para ele. - Só falta a tua irmã engravidar - olhei para ele com um sorriso gozão na cara.

-Que surpresa? - perguntei fazendo um beicinho para ele me contar. Agarrei-me a almofada com forma e pela primeira vez gritei com afinco enquanto sufocava o grito com a almofada. Olhei para Tom e assenti com a cabeça, eu tinha a certeza que era agora.. Passaram dois minutos e a enfermeira entrou com mais duas colegas, uma ocupou-se de me espetar uma agulha no braço, e as outras duas iam-me acalmando.
-Você vem ou fica?-perguntou uma das enfermeiras para o Tom.
-Olha, vais ter de ter calma...pode doer ou podes nem sentir nada. - pegou-me na minha mão e empurraram a maca para outra sala, a de partos.
Trocaram-me de cama fechei os olhos com força, mal me pediram para fazer força senti-me a desligar. -O bebé está a matar a mãe.

Fizeram um corte em mim para me tirar a criança que chorava e colocaram-na no colo de uma enfermeira que a levou logo para outro sitio. Com umas maquinas de choque colocadas em mim a minha angustia começava a superar toda a dor que tinha, esta ciente de tudo . - Ela está apenas desmaiada agora vai para o quarto pode ser que acorde. - a enfermeira olhou espantado para ele.
-Façam o que estou a dizer isto acontece. - passou a mão pelo meu corte que Joshua me tinha feito á uns dois meses e segui para o quarto. Lutava contra mim para querer acordar, mas estava cada vez a sentir-me sem forças para tal.

Narrador
-O menino está bem? - perguntou uma enfermeira ao pobre rapaz que chorava com uma certa aflição.- A sua menina já nasceu, vá ao quarto ela está lá.- sorriu para ele e engoliu em seco. - Não sabemos nada da mãe dela, e por enquanto só pode estar com a pequena.-informou-o e voltou para ao pé da mãe da criança que combatia pela vida. Debruçou-se sobre ela e pousou as suas mãos sobre a doente murmurando uma reza qualquer.

-Tom - murmurei olhando á minha volta deparando-me com a solidão. Carreguei num botão que estava ao meu lado chamando assim a enfermeira.
-A minha Filha? O Tom? - perguntei mal ela entrou no quarto e encostei-me á cama sentindo-me tonta ainda.
-Vou ver o que posso fazer. - murmurou ao pé de mim o que me fez sorrir.
A senhora de baixa estatura dirigiu-se para a sala onde Tom e Hanna estavam e colocou a mão sobre o ombro dele- Lamento...- fez uma pausa e prossegui - vai ter de largar a sua filha a mãe quer vê-lo a si e á bebé. -ela sorriu carinhosamente para Tom.

Soltei uma pequena gargalhada.
Jake levantou-se e colocou Marie no berço, cobrindo-a.
A enfermeira que me tinha acompanhado durante o parto entrou no quarto e como sempre sorriu para ambos.
- Peço desculpa mas o papá vai ter de deixar a mãe e a princesinha descansarem...-proferiu. Olhei para Jake abanado a cabeça, tristemente.- A não ser que queira ficar cá com elas...-sugeriu, piscando-me o olho.

Mordi o lábio levemente.
- Acho melhor eu ir e volto logo de manhã. - olhei Chloe. - Okey?

Enquanto a enfermeira falava com Jake olhei Marie que se encontrava num sono profundo. Ela era tão perfeitinha...
Mal ouvi Jake dizer que ia embora olhei rapidamente para ele.
- Não vás...-murmurei rapidamente, mas depois olhei em volta e reparei que o quarto não tinha condições para que Jake pudesse dormir. - Pronto vai lá, mas amanhã quero acordar contigo cá...-fiz beicinho.

Ri-me do seu beicinho e vi a empregada assentir e sair.
- Depois trago-te roupa sem ser de grávida e tudo.
Dei-lhe um beijo e depois beijei a testa de Marie.
- Até amanhã.