Local de descontração

Levei-a do carro para a sala arranjada que tinhamos em casa, ao colo e coloquei-a sobre o sofá decidindo que só lhe dava a minha prenda daqui a alguns minutos, primeito queria contar-lhe a minha novidade.
-Esta casa agora é minha. A Cally vendeu-ma - disse-lhe sentando-me a seu lado.

Estava muito descontraida até ouvir o que Axl disse. Um sorriso enorme instalou-se na minha cara.
-O quê?! - exclamei - Quando é que isso aconteceu?! - e abracei-o levemente - por causa da barriga - feliz.

-Há cerca de cinco dias, mas só agora, com este stress dos tribunais e isso é que consegui os papéis. - sorri e depois fiquei um pouco mais sério - Eu vou-te dar a minha prenda, mas antes eu quero que te prepares para aceitar. - avisei - eu já sei como é que tu és - resmunguei levantando-me.

O sorriso desapareceu da minha cara. Aceitar? Assim tão cedo? Prenda de Natal? Agora? Já depois? A sós? Como eu sou? Prenda? Nada batia sentido e no fundo no fundo ainda estava com esperanças que fosse uma grande prenda. Que não o seria. Mas o que raio? Casa?... Algures ouvi um sino mas ná . isso não era do axl. Então, o que raio é que era?
-Aceito... - disse seriamente ainda interrogada com aquele jogo - Vá, diz lá o que é!... - acabei por explodir animada.

-Calma, não é nada de mais - ri-me levando a mão aos bolsos e indo até ao meu quarto buscar a pulseira de pérolas que a minha avó me tinha deixado antes de morrer. Fui de novo para a sala e coloquei-lhe o saquinho embrulhado nas mãos. - Era da minha avó, ela morreu quando eu tinha dez, foi a única que me deu ouvidos. - assenti com a cabeça suspirando. - É importante para mim e eu queria mesmo dar-to. - mordi o lábio nervosamente.

Olhei para a pulseira e depois para ele, mordendo o Axl e sentindo-me mal por ter pensado todas aquelas coisas. Uma pulseira. Com um grande valor.
-Oh, Axl... - murmurei percebendo-o completamente e abraçando-o enquanto lhe tirava a pulseira e a agarrava. - Vou guardá-la como se fosse a chave da Casa Branca... - sussurrei-lhe ao ouvido sem o largar.

Sorri quando ela me abraçou e coloquei-lhe o cabelo todo só para um lado. - Ainda bem que gostaste - deitei-me ao lado dela visto que o sofá era grande o suficiente e agarrei-lhe na pulseira prendendo-a ao seu pulso. - Não se parte fácilmente, podes usar às vezes. Mas tens que ter cuidado com os gajos que andam por aí. Tu és um iman de perigos e não te quero morta por causa de uma pulseira.

Ri-me lembrando-me de tudo o que acontecera desde que tinha conhecido o Axl até agora.
-Eu é que sou o íman de perigos? - gozei - Eu nunca tinha sido esfaqueada por outras mãos se não as minhas antes de te conhecer! - brinquei fazendo uma careta e passado um pouco percebi que tinha sido um bocadinho inconveniente... tanto para mim como para ele.

Fiz uma careta tal como ela e deitei a cabeça numa almofada.
-Não era essa a minha intenção.- suspirei - não te queria magoada no meio destas confusões todas. - brinquei com os seus dedos e dei um leve suspiro.

Fiquei mais séria novamente relembrando-me daquele dia como se fosse ontem.
-Claro, a tua intenção era apenas foder uma gaja que estivesse no bar naquele dia... - piquei-o num tom meio brincalhão meio chateado com a cabeça encostada ao sofá, perto da sua.

Abri um sorriso travesso e encolhi os ombros.
-Estava nas minhas experiências e tinha estado escondido à demasiado tempo escondido. - sorri - mas ainda bem que foste a minha experiência. Aproveita hoje, é natal e estou bondoso - gozei beijando-a.

Soltei uma gargalhada irónica e fixei-o nos olhos. Aw , o amor. pensei para mim própria.
-Oh claro... - concordei e olhei em redor, olhando em seguida novamente os olhos dele - Ainda bem que estava no bar naquele dia naquela hora... - admiti baixinho beijando-o.

-Ainda bem que estavas bêbada e que concordaste vir comigo para casa - agarrei-lhe no queixo puxando-a para mim e beijando-a. -Ainda bem que me puseste nos eixos. - toquei-lhe na face e sorri levemente.

Arrepiando ouvindo a sua voz tão perto de mim lembrando-me daquela noite.
-Ainda bem que me engravidaste. - repeti - Ainda bem que não me abandonaste como uma vadia que parece que sou... - suspirei e fiz um pequeno sorriso, colocando a minha mão à volta do seu pescoço.

-Não pareces nenhuma vadia - ri-me tendo cuidado com os seus cortes e abraçando-lhe a cintura - eu não te ia deixar, eu podia não querer mas os filhos eram meus. - sorri - mas sinceramente.. eu sei que isto te custa, mas ainda bem que estamos assim.

-Eu sei... - concordei falando baixinho - Mas... ainda... me dói - apontei com o meu olhar para a barriga. a mesma barriga em que há alguns meses atrás tinha estado com duas crianças lá dentro. e que ambas tinham morrido. autch.

Olhei para o mesmo sítio que ela olhava e suspirei abraçando-a e puxando-a para mim, estando na mesma deitado.
-Eu sei. - afirmei - Desculpa. - abanei a cabeça - não vamos falar disso.

Assenti com a cabeça voltando a olhar em volta, mantendo-me em silêncio - aquele silêncio contrangedor enquanto alguém concordava que era melhor mudar a conversa , mas não se sabe bem do que falar e ... e... pronto , é estranho. E o mais estranho de tudo é que apesar daquilo tudo, ainda me sentia mal. e ainda preferia que de todos aqueles suicidios todos, pelo menos (sim, também não haveria máximo mas pronto...) um tivesse resultado.
-Tenho frio. - acabei por dizer, queixando-me e agarrando-me mais a ele.

Puxei-a mais para mim beijando-lhe a testa e estiquei um braço para agarrar num cobertor, quando consegui alcança-lo cobri-nos com ele e esbocei um sorriso. - O que queres fazer amanhã? - Perguntei baixinho.

-Não sei - murmurei fechando os olhos e pousando a minha cabeça no seu peito - Vamos falar disso mais tarde... - sussurrei e pisquei os olhos mais uma vez, tentando perceber se era a única com sono ali. era sempre, sempre que as coisas estavam fofinhas e românticas que eu ficava com sono.

-Está bem - disse-lhe no mesmo tom que ela e fechei os olhos começando a aterrar. - Falamos disso amanhã - disse antes de adormecer.

Acordei na manhã seguinte e olhei em volta até ganhar coragem para me levantar. ouvia como som de ambiente um ressonar baixinho do axl, como um pequeno dálmata todo fofo. Sorri a pensar naquela comparação e cheguei-me mais a ele, dando-lhe um beijo como despertador.
-Bom dia alegria. - sussurrei.

Fiz uma careta tapando a cara com o cobertor e suspirei.
-Bom dia - disse ficando ainda com a cara tapada e só depois olhando para ela ainda cheio de sono. Puxei-a pelo queixo e dei-lhe um beijo rápido sorrindo um pouco. - Dormiste bem aqui? - Perguntei.

Levantei-me e dei uma espreguiçadela , sem tirar o sorriso da cara. Acenei com a cabeça.
-Sim. - respondi levemente - Então e tu? - acrescentei.