As varandas

Entrei em casa e coloquei o casaco no cabide, nervosa. Subi até à varanda da sala de jantar e apoiei os meus braços no corrimão, relaxando. Mas quem poderia estar relaxada naquela situação? Merda. A Brayce tinha razão. E eu odiava isso. Se não tivesse ficado grávida desde drogado, onde raio é que eu estaria? Era algo constrangedor e que me irritava profundamente, principalmente naquele momento.

Deitei as chaves para a mesa de vidro fazendo algum estrondo e segui-a até à varanda começando a ver as pessoas a passar.
- Não te magoaste? - Perguntei olhando para o seu pescoço que começava a ficar vermelho. Olhei para o céu e reparei que começava a negar. Suspirei e andei para trás sentando-me no sofá.

Coloquei a mão no pescoço e senti as marcas da mão daquela loira burra. Abanei a cabeça em sinal de não, mas por dentro estava totalmente magoada. E por fora, acabava por ainda estar um bocado. Mas naquele momento estava na minha hora de tristeza. Impressionante como aquela estúpida ainda me pode estragar mais o Natal.

-Eu falei contigo, mas yah, ignora - resmunguei tirando um cigarro e olhando para ele acabando-o por guarda-lo de novo. Voltei a levantar-me e fui novamente ter com ela. - Acalma-te lá Amanda, já sabes como a Brayce é, basta ignorares ou então.. começa a praticar antes que ela te mate. - O que é bem capaz, acrescentei para mim.

Ignorar, ignorar, ignorar, ignorar, ignorar... repeti mentalmente, sem conseguir. Virei-me e encostei o meu rabo na protecção, fazendo-lhe um sorriso falso.
-Achas mesmo que ela me matava? - continuei, repetindo o ignorar na minha cabeça - Hamm certo, e se fizessemos qualquer coisa para eu - fiz o gesto de aspas com os dedos - "Ignorar"? - sugeri, sentando-me onde ele estava há pouco.

-Acho que ela não te matava ali, mas que era capaz de o fazer era - encolhi os ombros virando-me para ela que estava onde eu me tinha sentado à pouco. Fiz uma careta com o que ela sugeriu. - Como assim fazer qualquer coisa? - Perguntei não percebendo onde ela queria chegar.

Encolhi os ombros.
-Sei lá. Irmos a algum sítio. Irmos até ao Jacuzzi. Qualquer coisa assim. - suspirei, deitando as minhas pernas no sofá e pousando a cabeça numa almofada, relaxando. Ignorar, ignorar, ignorar...

A minha careta persistiu.
-Ná, não estou muita disposição para isso. - respondi-lhe virando-me novamente para a varanda e vendo a minha mãe a chegar a casa. Arregalei os olhos e endireitei-me. E agora? Não as tinha comigo, mas um motivo para ela achar que eu era um drogado qualquer que nem das irmãs sabia cuidar. A campainha ressoou por toda a casa e ela suspirou nervosamente. Virei-me novamente para Amanda.
-Vem comigo, é a minha mãe, preciso que me ajudes a dizer o que aconteceu hoje. - Pedi passando pela sala de jantar e descendo as escadas até à entrada. Abri a porta e olhei para ela, estava mais lixada que da outra vez. Ela olhou-me e fez um sorriso forçado ao qual eu nem pensei em corresponder.
-Onde é que elas estão?
-O Bryan tirou-mas - disse-lhe e ela fez uma cara cinica, não acreditando no que eu lhe dizia.

Abri, ainda em silêncio, a gaveta onde Axl guardava o tabaco (que já não fumava) e agarrei num cigarro e no isqueiro. Desci até à varanda da Sala de Jantar e encostei-me na protecção, fumando lentamente, que era algo que não fazia há muito tempo. Deixei-me por ali ficar.

Fui ter com ela à varanda da sala de jantar e olhei para o meu maço de tabaco na sua mão. Tirei-o e retirei um cigarro e acendi-o levando o mesmo à boca, já não fazia isto à meses, mas agora apetecia-me.
-O que é que estás a fazer Amanda? - perguntei apoiando-me pelos cotovelos. - Eu já não estou a perceber nada. Queres que te peça desculpa?

Olhei para ele confusa, não percebendo o que ele queria dizer. Desculpa pelo quê?
-Eu é que já não estou a perceber nada. - queixei-me deitando a ponta do meu cigarro para o chão.

-Queres que eu te peça desculpa por ter ido falar com eles? - Perguntei olhando para a rua. É que se ela queria que eu lhe pedisse desculpas eu pedia, só queria é que ela deixasse de estar assim e que o mau ambiente fosse embora. Já estava pelos cabelos, e os meus eram pequenos, por isso quando explodisse de vez não ia ser bonito e eu não a queria magoar.

Estava prestes a responder-lhe quando senti o meu telemóvel a vibrar no bolso. Tirei-o e vi que tinha uma mensagem da Jenny. Li-a com atenção e respondi-lhe.
-A minha prima acabou de me mandar uma mensagem... - declarei sem retirar os olhos do móvel.

Olhei para o telemóvel, mas não estava com vontade de ser cusco por isso apenas esperei que ela dissesse alguma coisa, mas como não o fez fui sentar-me no sofá.
-O que é que ela quer?

Levantei a cabeça, meio feliz, e sentei-me ao lado de Axl, encostando-me a ele.
-Os meus tios foram para Oxford. - anunciei.

Puxei-a mais para mim e olhei para ela.
-Isso quer dizer que...? Vão deixar-te em paz e podes viver a tua vida comigo? - perguntei.

Olhei para ele com um grande sorriso na cara e beijei-o, acenando com a cabeça.
-Estou finalmente livre. - anunciei

Sorri tocando-lhe na face e voltei a beija-la.
-Tu estavas de qualquer maneira. - respondi-lhe puxando-a para o meu colo. - Nós somos um para o outro, tu cuidas de mim e eu cuido de ti, eu ia proteger-te mesmo que eles continuassem a magoar-te.

Aquele Axl estava mesmo diferente, mesmo mudado, mesmo fofinho. e lamechas, também!
-Pareces uma mãe galinha - gozei tocando com o meu dedo indicador no seu nariz e pondo a língua de fora.

-Nunca mais te digo coisas queridas - ri-me e olhei-a dando-lhe um beijo. - Mas ao contrário do que penas eu gosto de exprimir o que sinto - sorri.

Ajeitei-me, no colo dele, e prendi o cabelo atrás de mim.
-Mas é raro o fazeres. - contradisse.

Coloquei as mãos nas suas pernas.
-Mas quando o faço sabe-me bem - respondi-lhe beijando-lhe o maxilar.

Abanei a cabeça, parando os beijos e encostando a minha cabeça no seu ombro.
Nem por isso, fica estranho. - argumentei olhando para ele de lado.

Olhei para ela levantando o sobrolho e deixei que ela deitasse a sua cabeça no meu ombro.
-Está bem, depois não te queixes - avisei apenas olhando para a rua.