Supermercado

Ao fim, de andar, bastante - a minha sorte foi vir de carro, encontrei um supermercado. Procurei todas as coisas que precisava para ter uma despensa bem recheada, o que me deu um carrinho de supermercado cheio, e paguei tudo, o que fio dar uma conta um pouco elevada. Pôs tudo no porta bagagens do meu carro, e voltei para casa.

Apanhei um taxi que me levou até ao supermercado. Quando entrei, procurei pela parte da "saúde", onde haviam giletes, cremes de barbear, cremes depilatórios, desodorisantes e, supostamente, testes de gravidez. Quando os encontrei, fui até à caixa automática e esperei na fila, um bocado nervosa.

Cally era uma seca, será possível que ela não tenha tido tempo de passar pelo super-mercado? É que a casa era dela e não minha. Fui à prateleiras da higiene, dos cereais e das bebidas comprando demasiadas, mas não fazia mal.
Assim que fui para a fila reconheci aquelas curvas e cabelo.
-Amanda - disse engolindo a seco a ver uma caixa que dizia teste de gravidez.

Antes de olhar para trás para me certificar quem me tinha chamado, reconheci a voz e percebi que também estava nervosa.
-Axl. - suspirei, antes de olhar para trás. Paguei o teste e esperei que ele pagasse as suas coisas para poder falar com ele, enquanto guardava a caixa na mala.

Paguei as minhas coisas e fui para o lado dela colocando as sacas num canto.
-Então, vais fazer isso - apontei para o teste com o queixo e olhei-o durante alguns segundos para, depois, voltar a olha-la.

Respirei fundo, enquanto o meu coração batia forte, preocupado. E se eu estivesse mesmo?
-Vamos. - respondi, virando costas e esperando que ele viesse atrás de mim. Fui até à casa de banho e assenti com a cabeça, entrando. Segui as instruções da caixinha e quando acabei respirei fundo novamente, e contei até dez, esperando que a etiqueta do teste desse o seu resultado. Quando olhei, percebi que tinha dado positivo, o que me deu vontade de gritar. Olhei-me ao espelho e coloquei a mão na barriga. Tinha uma coisa dentro de mim? Não era capaz de abortar, era como matar uma pessoa. Uma lágrima caiu-me do olho, enrolei o teste dentro de um bocado de papel higiénico e deitei ao lixo. Abri a porta da casa de banho e saí. Olhei para Axl com cara preocupada enquanto mais lágrimas me caiam do olho. E agora?

Ao vê-la sair da casa de banho com lágrimas nos olhos cerrei os maxilares e os punhos.
-Não! Foi só uma noite caramba! - gritei dando um murro com força na porta da casa de banho, fazendo todos a olhar para mim. Robei-lhe o teste e vi-o. Tinha dois tracinhos, aquilo devia estar estragado. Revirei os olhos e atirei-o para um lavatório. Apoiando os cotovelos na banca tapei os olhos respirando fundo para me acalmar.

Baixei o olhar e não consegui superar o choro, que era cada vez mais forte.
-Eu sei.. - murmurei - E agora? - perguntei - E agora? - repeti, mais alto. As pessoas olhavam para nós, pelo que entrei novamente na casa de banho e sentei-me no chão, fechando a porta com força o que fez um grande estrondo.

Fechei os olhos quando a senti entrar na casa de banho e abri a porta indo ter com ela.
-Amanda - disse sentando-me - acalma-te. - Pedi-lhe não sabendo bem porquê. Virei-a para mim e limpei-lhe as lágrimas. Ela estava assustada, não podia simplesmente descarregar nela, porque eu também tinha culpa. - O que é que queres fazer agora? - Perguntei.

Abraçei-o e coloquei a minha cabeça ao seu ombro.
-Não sei. - murmurei ao seu ouvido - Não sei mesmo. - repeti, entre soluços. Voltei a encostar-me à parede - Os meus tios não podem saber.. não tenho dinheiro para sustentar um filho.. Vamos apenas esperar..

Sim, suspirei ao pensar no que ela disse, um filho para sustentar.
-Eu tenho dinheiro, mas... isso não quer dizer que eu queira ser, ou que... Amanda, eu vendo droga, não vou ser nem bom pai, nem bom tio, nem bom avô - afastei-a e fiz com que ela me encarasse - tudo o que eu vou ser é um bom drogado - encolhi os ombros e parei de falar por momentos. Voltei a encarar o chão sabendo que ela continuava a olhar para mim e falei:
- porque é que não abortas?

Coloquei a mão atrás no cabelo e tentei acalmar-me, contando até dez outra vez.
-É como matar uma pessoa. - olhei para a minha barriga e coloquei a mão nela - Não sou capaz de o fazer, ok? - perguntei, esperando que ele percebesse.

-Eu percebo - disse fechando os olhos e esfregando-os -Uma das minhas irmãs... também lhe aconteceu isso e ela fugiu de casa - encolhi os ombros e fi-la levantar-se - não vai acontecer nada de mal com os teus tios - assegurei-lhe porque sabia que estava assustada com isso. - Falas com eles e eles compreendem - encolhi os ombros e abri a porta e não vendo as compras. Revirei os olhos, cambada de ladrões, ainda por cima só deixaram os cereais.

Levantei-me e abri a torneira, passando os olhos por água e lavando-os.
-Não, não compreendem. Nunca compreenderam e nunca vão compreender. - suspirei - Eu sou a ovelha negra da família. - admiti, olhando para o lado. Espreitei pela porta onde ele espreitara e vi que ainda havia pessoas a tentar ouvir a conversa, abri a porta e mandei-os embora, ficando então parada nesse sítio.

Fiz com que ela saísse daquele sitio em que as pessoas nos olhavam e fui andando até ao parque de estacionamento onde tinha o carro de Cally.
-Senta-te - disse enquanto a ajudava a sentar-se com cuidado no banco ao meu lado. Fui para o banco do condutor e dirigi-nos até minha casa. - Vamos espairecer um bocado. A Cally tem um óptimo jardim.